Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho
Descrição de chapéu Maratona

'Godfather of Harlem' subverte ideia de máfia americana

Série com Forest Whitaker aborda drogas, crime e racismo no EUA

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Um levantamento publicado no início de 2018 pela Drug Policy Alliance, grupo que se dedica a expor os efeitos de quase cinco décadas da chamada "guerra às drogas" nos Estados Unidos, mostrava que 80% das pessoas presas por crimes ligados a entorpecentes no país de Donald Trump eram negras ou latinas, embora esses dois grupos somem 25% da população do país.

Segundo as estatísticas mais recentes do próprio governo americano, crimes com drogas são a razão da condenação de 46% dos detentos em prisões federais —um contingente de 70 mil pessoas, maior do que o reunido nas cadeias do Tio Sam por qualquer outro delito (consideradas todas as esferas, estimativas apontam que o número beire 500 mil, ou 1/3 do total de presos informado pelo Departamento de Justiça).

"Godfather of Harlem", série do canal americano Epix que a Fox Premium começou a exibir aqui a partir de meados do mês de junho, faz um retrato pungente e humano dos primórdios dessa epidemia a partir da cidade de Nova York nos anos 1960 e que soa, tristemente, atualíssimo.

É uma história de discrepâncias contada a partir de três personagens reais: o chefão criminoso "Bumpy" Johnson (1905-1968), que vem a ser o "padrinho" do bairro nova-iorquino do título; o líder islâmico e ativista Malcolm X (1925-1965), figura tão radical quanto crucial na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos; e o pastor e político Adam Clayton Powell Jr. (1908-1972), o primeiro afro-americano eleito para o Congresso dos EUA.

A forma como esses três homens negros —o criminoso, o ativista, o político; dois deles religiosos— conduziram suas aspirações e como os seus destinos foram selados diz muito sobre os Estados Unidos, onde a ebulição da luta por direitos é constante e ainda está longe de ser concluída.

Johnson, o protagonista, é vivido por Forest Whitaker, um dos melhores atores de sua geração, com o brilhantismo de sempre. Ele acaba de sair de uma longa temporada em Alcatraz, prisão hoje desativada e que virou ponto turístico em San Francisco, para encontrar o seu bairro mudado em razão do crescente consumo de drogas.

Ele reencontra Malcolm X (Nigél Thatch, que interpretou o mesmo papel que viveu em "Selma"), a quem conhecera jovem, transformado por sua fé no islã e na necessidade de os negros se revoltarem contra o status quo. E Powell, cuja influência política cresce graças à sua facilidade de transitar entre negros e entre brancos (para vivê-lo, foi escalado Giancarlo Esposito, de "Faça a Coisa Certa" e "Breaking Bad").

Com essa tríade gigante, a série de Chris Brancatto e Paul Eckstein se propõe a chacoalhar o imaginário do espectador que associa os chefões mais sofisticados das máfias americanas à imagem construída pelos filmes de Francis Ford Coppola e Martin Scorsese, nos quais negros são apenas soldados, sem entrar no território de Spike Lee, de quem emprestam a temática porém não a abordagem.

É coisa finíssima, para ver cada um dos dez episódios com atenção e processar cena a cena, não porque sejam difíceis de entender, mas porque mostram obviedades das quais quase sempre tentamos fugir.

A primeira temporada de 'Godfather of Harlem' está disponível no Fox Premium

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior deste texto deixou de informar que as estatísticas de condenações por drogas se referiam apenas às prisões federais. A informação foi corrigida.

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