Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Luciana Coelho
Descrição de chapéu Maratona

Comédia britânica 'Trying' faz pensar em por que alguém decide ter filhos

Série vai bem além dos diálogos espertos e das tiradas engraçadinhas para adentrar questões espinhosas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

No caminhão de séries sobre convívio familiar, aquelas que falam da chegada de um filho e das mudanças que se seguem são quase um subgênero (“Mad About You”, sucesso dos anos 1990, ainda hoje soa atual). Perdas e lutos também têm seu quinhão, como na recente “Servant”, da Apple TV+.

Novidade é dedicar uma série toda à decisão de criar ou não outro ser humano e todas as ondas sísmicas dela iniciadas, como propõe “Trying” ("tentando"), primeira incursão da Apple TV+ em terras britânicas.

A produção da BBC chegou à plataforma de vídeos em maio, e só neste mês ganhou destaque, entre uma leva de produções recém-lançadas como “Ted Lasso” e “Little Voice”. Numa quarentena em que parecemos viver um único dia de horas infindáveis, pesa menos a estreia distante do que o fato de o tema de “Trying” estar aí, no nosso nariz, sem que se tocasse nele.

Comédia simpática, daquelas protagonizadas por um casalzinho descolado com amigos fiéis e uma família coesa, em que pesem as picuinhas, “Trying” vai bem além dos diálogos espertos e das tiradas engraçadinhas para adentrar com graça questões espinhosas, daquelas que trazem à tona coisas muito primais num ser humano.

A saber: o que significa, hoje, ter um filho? Qual a diferença entre gerá-lo e adotá-lo? O que esperamos dessa criança, e o que esperamos de nós mesmos, inclusive aqueles que optam por não ter filhos, ao virarmos pais e mães?

Nada disso pretende ser respondido pela sitcom, que tem seis episódios de meia hora. O roteiro de Andy Wolton, porém, é um convidativo trampolim para nos botarmos na pele de Jason (Rafe Spall) e Nikki (Esther Smith), um professor de inglês para estrangeiros e uma atendente de locadora de automóveis que, confrontados com um diagnóstico de baixa fertilidade, decidem num impulso tentar a adoção.

Spall e Smith, em suas atuações sutis, logo cativam o espectador, convidado a olhar por uma lupa de tempo dilatado todo esse processo de escolha que, erroneamente, se pressupõe instintivo.

Entretanto, o que faz “Trying” valer a pena é Imelda Staunton, uma atriz londrina de imensa versatilidade que devia ser presença mais constante em premiações de cinema e TV. Fãs de “Harry Porter” vão se lembrar dela como a intragável Dolores Unbridge, mas Staunton foi indicada ao Oscar por “Vera Drake”, filme de 2005, e deve voltar a esse tipo de holofote ao assumir o papel da rainha Elizabeth 2ª na quinta temporada de “The Crown”, no ano que vem.

É a Penny interpretada por Staunton, uma assistente social que “treina” casais em busca do aval do painel municipal que aprova as adoções, que propõe, entre tiradas sarcásticas e pílulas de experiência, essa discussão sobre o papel de criar uma criança, maturidade, ansiedade, desejo e, vá lá, vaidade.

A segunda temporada já está em vista. Afinal, como disse uma vez um médico ao entregar o bebê recém nascido aos pais, “desejo realizado? Agora é só criar”.

A primeira temporada de ‘Trying’ está disponível na Apple TV+.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.