Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

Monstros reais e imaginários povoam 'Lovecraft Country'

Suspense fantasioso consolida Jordan Peele, cineasta de 'Nós', como a cabeça mais instigante em Hollywood

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Jordan Peele fez de novo. Fãs de ficção científica, terror, crítica social e de uma boa história de suspense encontram um prato cheio —talvez de braços e pernas— em “Lovecraft Country”, suspense fantasioso que acaba de estrear na HBO e conta a história de um veterano de guerra numa incursão rodoviária nuns Estados Unidos imaginários nos anos 1950.

Obra mais recente do cineasta de “Nós”, do ano passado, a série de dez episódios é uma cocriação de Peele com a roteirista Misha Green, de “Undeground”, que traz todos os traços que fizeram dele o nome mais instigante do cinema americano atual.

Estão ali, por exemplo, o elemento absurdo que vem ganhando volume desde “Corra!”, de 2017, mesclado à crítica social e antirracista contundente que marcam todos os seus trabalhos.

Esta captura a atenção até dos mais avessos ao discurso político, talvez pelo humor algo surrealista (um aprimoramento de seus trabalhos mais antigos em comédia) somado a um apuro estético que tornou as obras que levam seu dedo tão reconhecíveis visualmente como a dos também geniais irmãos Coen.

A história: Atticus Freeman (Jonathan Majors, de “When We Rise”) volta para casa e descobre que seu pai desapareceu. Com o tio (Courtney B. Vance) e a amiga Letitia (Jurnee Smollett; o elenco é ótimo), ele inicia uma viagem de carro pelo noroeste americano para encontrar o pai. No caminho, encontra monstros cheios de olhos e línguas, como aqueles criados pelo escritor de ficção científica de horror H. P. Lovecraft —sim, o do nome da série.

Encontra, também, monstruosidades bem mais realistas, como a segregação racial em seu auge e o racismo violento e sem disfarces de um passado que ainda se faz ouvir.

Em sua determinação e bondade, o Atticus de Peele e Green evoca outro Atticus mais famoso, aquele criado pela escritora Harper Lee em “O Sol É para Todos”, de 1960, e transformado no filme que imprimiria para sempre o rosto e a voz de Gregory Peck no advogado branco que defende um negro acusado de estupro no sul segregacionista dos EUA.

Mas, veja só, ele é negro e está na branquíssima região da Nova Inglaterra, o tal Lovecraft Country, terra das cidades inventadas pelo escritor de fantasia que viveu de 1890 a 1937 e região de não poucas lendas de bruxaria. Só essa inversão, em tempos em que o antirracismo se impõe como urgente, é suficiente para ligar a história ao presente.

Tem sido difícil desviar a atenção da carreira de Peele, de 41 anos, possivelmente a cabeça mais fervilhante hoje da dramaturgia em telas —cinema, TV, tanto faz. Um pouco de fantasia, que tem conquistado espaço após anos de reinado das distopias, também não faz mal quando a realidade já nos é tão desanimadora.

Para quem não tem preconceito nem medo de monstros, eis um motivo para ansiar pelos domingos à noite.

‘Lovecraft Country’ vai ao ar às 22h de domingo na HBO e está também na HBOGo.

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