Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

Cate Blanchett encarna uma ativista conservadora na série 'Mrs. America'

Nova minissérie da Fox escala elenco de peso para falar de feminismos e concorre a dez prêmios Emmy

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“Mad Men”, os fãs hão de se lembrar, trazia em sua icônica abertura o vulto escurecido de um executivo em queda livre por entre outdoors com partes de corpos femininos.

Em “Mrs America”, que a Fox Premium lança neste sábado e que disputa dez prêmios Emmy no domingo, os créditos surgem também em meio a uma animação, mas as personagens são mulheres coloridíssimas em um caminho ascendente sem fim.

Sim, a queda do publicitário mulherengo Don Draper (Jon Hamm), que se despediu com um insight do mundo pós-movimento hippie, tem muito a ver com a ascensão dessas mulheres agitadas e agitadoras. Draper, porém, era fictício; as personagens de “Mrs. America” são reais e protagonizaram a segunda onda do feminismo nos Estados Unidos da virada dos anos 1970.

Estão ali Gloria Steinem (Rose Byrne, de “Damages”) e Betty Friedan (a comediante Tracy Ullman), além das deputadas Shirley Chisholm (Uzo Aduba, de “Orange Is the New Black”), primeira negra a se candidatar à Casa Branca, e Bella Abzug (Margo Martindale, de “The Americans”), a quem Hillaries e Alexandrias Ocasios devem muito.

Nenhuma delas, porém, é o pivô da minissérie criada por Dahvi Waller, roteirista —advinhe?— de “Mad Men”. Esse papel coube à ativista conservadora Phyllis Schlafly, uma figura menos conhecida mas fundamental nesse trecho da história americana. E foi entregue a Cate Blanchett (mantra pessoal: nada com Cate Blanchett pode ser ruim).

No texto de Waller e na pele de Blanchett, Schlafly escapa de ser reduzida a uma figura vilanesca e lateral que combateu a emenda por igualdade de direitos como se esta fosse empurrar as mulheres para campos de guerra. O que reluz é uma intelectual influente entre o público conservador, independente e libertária.

Não que sua lógica pervertida receba panos quentes em “Mrs. America”. Ao contrário, dar-lhe vulto e nuances deixa nítido que muitas das mulheres que detratam o feminismo como um mal poderiam bem ser chamada de “feministas”, exceto talvez pela posição antiaborto que costuma se justificar por fé religiosa.

É isso que faz de “Mrs. America” —senhora América, em contraste com o “Ms.”, que ignora status conjugal e foi alçado a nome de revista por Steinem— tão interessante: mostrar, sem simplismos, que os rótulos colados ao feminismo não fazem sentido, e sem ele o mundo seria um lugar pior para todo mundo.

Isso não significa que o movimento sempre acerte nem que possa ser entendido como um monólito.

As rusgas quase caricaturais entre Steinem e Friedan; o discurso da empoderada Schlafly que diminui a própria irmã, solteira; a forma como Steinem ora usava ora refutava a própria beleza, são ilustrativos de que não é possível falar em movimento de mulheres a partir de um ponto de vista em preto e branco, sem nuances. Parece óbvio? Pois avise os Don Drapers por aí.

‘Mrs America’ estreia neste sábado (19) no Fox Premium 1 e será exibida semanalmente, às 23h de terça, a partir do próximo dia 29

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