Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

Sonho americano é virado do avesso em série com Kirsten Dunst

'Como se Tornar uma Divindade na Flórida' chegou à Globoplay na semana passada com todos os dez episódios disponíveis e uma segunda temporada já prevista

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Há um lado pantanoso do "sonho americano", a ideia de que qualquer um é capaz de prosperar com base no próprio esforço até obter um padrão de vida confortável. A série de humor negro "Como se Tornar uma Divindade na Flórida", com Kirsten Dunst, leva esse simbolismo ao pé da letra.

Produzida pela plataforma americana Showtime, a série passou nos Estados Unidos há um ano sem maior barulho, embora tenha rendido a Dunst uma indicação ao Globo de Ouro (perdeu para Phoebe Waller-Bridge). Chegou à Globoplay na semana passada com todos os dez episódios disponíveis e uma segunda temporada já prevista.

A atriz Kirsten Dunst, que estrela "Como se Tornar uma Divindade na Flórida" - Valerie Macon/AFP

Em "Como se Tornar", a personagem de Dunst, Krystal, ascende em uma empresa de suprimentos de papel e limpeza do tipo pirâmide, na qual a meta é cooptar mais gente e assim arrecadar parte dos lucros dos tutelados.

No topo, como sempre, fica o guru que enriqueceu com o método e enriqueceu os asseclas mais próximos, legando ao pessoal da base, não raro, miséria e desgraça.

A história é similar ao episódio real documentado em "The Vow", em exibição na HBO, sobre uma empresa de autoajuda que se tornou uma quase-seita nos EUA dos anos 2000.

Em "Como Se Tornar", contudo, não há espaço para sutileza. Se no documentário a promessa do enriquecimento espiritual ou pecuniário se torna intrigante porque pode enredar qualquer um, na ficção da Showtime só caem no conto os mais desprovidos.

Krystal é o que os americanos chamam, pejorativamente, de "white trash", ou lixo branco, aquela parcela da população do país que escapa do racismo, mas não de outras armadilhas que impedem a meritocracia de realmente funcionar.

Com menos educação e menor acesso a bons empregos e informação, não tem bens e vive soterrada por um pilha de dívidas que vão de excessos de consumo a contas criadas por um sistema de saúde voraz, no qual o atendimento gratuito existe em poucos estados.

Diante das dívidas e de uma filha bebê para alimentar, resta a Krystal, funcionária de um parque aquático decadente, assumir como negócio a razão de vida de seu marido, Travis (um irreconhecível Alexander Skarsgård, de "Big Little Lies"): recrutar membros para a FAM, empresa que alista associados para alistarem mais associados em uma pirâmide infinita e, assim, repassar seus produtos de baixa qualidade.

Diferentemente de Travis, porém, Krystal é cínica, sabe onde está se metendo e não liga de tragar outros com ela.

Mais interessante que a personagem de Dunst, à qual falta alma, é se entreter com os que orbitam à sua volta, como os vizinhos Ernie e Bets (Mel Rodriguez e Beth Ditto, a vocalista da banda Gossip) e seu ingênuo "mentor", Cody (atuação impressionante do jovem ator canadense Théodore Pellerin --eis aí alguém para ficar de olho).

Ao pintar os iludidos como gente tão simplória, "Como se Tornar" oscila: ora diverte, ora é simplista.

'Como se Tornar uma Divindade na Flórida' está disponível no Globoplay

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