Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona series

Afinal, a série 'A Maldição da Mansão Bly' é mesmo uma trama sobrenatural?

Baseado em Henry James, novo terror da Netflix passeia entre devaneio e demônios

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O seriado "A Maldição da Mansão Bly" não é, em sua essência, uma história de terror sobrenatural. Ou é?

Há uma boa leva de camadas na nova série da Netflix concebida por Mike Flanagan, da ótima "A Maldição da Residência Hill", com base em outro romance de horror famoso, desta vez do grande Henry James, autor de "A Outra Volta do Parafuso", de 1898.

A maior parte dessas nuances se desvela a conta-gotas, como o gênero requer; outras são óbvias como o terror que o título da série enseja. Há ainda a dos temas socioculturais que habitam o universo vitoriano de James e encontram em Flanagan um exímio maestro, que enxertou a narrativas aterrorizantes uma dimensão humana ao abordar a riqueza e a complexidade das nossas relações.

De uma forma ou de outra, escritor e roteirista prendem o público num tear de dúvidas sobre a confiança que temos, por demais excessiva, naquilo que vemos e naquilo que sentimos.

Cena da série 'A Maldição da Mansão Bly' - Eike Schroter/Netflix

Como em "Residência Hill", o elemento central é uma família encastelada numa enorme casa isolada, acompanhada de serviçais e de memórias de um passado terrível.

Somos apresentados à história por uma narradora sem nome, papel de Carla Gugino, a mãe de "Residência Hill", no meio de uma festa de casamento em 2007. Ela relata o que aconteceu 20 anos antes na mansão em Bly, no interior da Inglaterra, onde viviam duas crianças órfãs aos cuidados de uma babá recém-contratada pelo tio e tutor legal dos garotos.

Miles e Flora têm dez e oito anos, são educados e um tanto adultizados. Um dos trunfos vem das interpretações mesmerizantes de Benjamin Evan Ainsworth e Amelie Bea Smith, que dão aos irmãos um ar simultaneamente sinistro e inocente sem o qual seria impossível levar adiante o jogo proposto pelo escritor e pelo roteirista.

A babá, Dani, é uma professora americana que tenta escapar dos próprios traumas (Victoria Pedretti, a Nell de "Residência Hill" —sim, Flanagan embaralhou o elenco anterior e distribuiu novos papéis). O trabalho com duas crianças "perfeitamente esplêndidas", como Flora repete, e a convivência com os demais funcionários, o cozinheiro Owen, a jardineira Jamie e a governanta Hannah, parecem a oportunidade perfeita afetiva e profissionalmente.

Nenhum idílio, porém, resiste a uma"maldição" no título, e logo os fantasmas começam a assombrar Dani.

Cabe ao público decidir se são reais ou se ela está enlouquecendo. O dilema, no livro, já opôs gente como os escritores Truman Capote e Edmund Wilson, conta um artigo de 2012 na New Yorker, e a resposta é menos importante do que a pergunta em si.

Os fantasmas podem ser violentos, a casa tem um histórico de tragédias, e os funcionários, notadamente Hannah, arrastam suas correntes. O tio da dupla não é menos atormentado.

O que podia ser uma sequência de sustos vira um thriller psicológico sobre nossos demônios internos graças a uma riqueza de texto que faz jus ao original. Alguns monólogos sobre morte, perda, confiança, amor, traição, culpa e expectativas são encarados com competência pelo elenco, oferecendo, em meio à tensão, reflexões sofisticadas.

Se puder, assista e (re)leia o livro. É o tipo raro de obra atemporal, que sempre vale a revisita.

Os nove episódios de ‘A Maldição da Mansão Bly’ estão disponíveis na Netflix

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