Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Luciana Coelho
Descrição de chapéu Maratona

Série brasileira 'Bom Dia, Verônica' une serial killer, corrupção e machismo

Thriller tem roteiro problemático, mas a potência da história e das atuações consegue prender o espectador e o recompensar

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Das muitas cenas aflitivas de "Bom Dia, Verônica", thriller psicológico sobre uma escrivã de polícia que decide investigar um abusador de mulheres depois de testemunhar o suicídio de uma vítima, as que mais dão medo são as mais triviais.

Sim, a série brasileira, que estreou nesta quinta-feira na Netflix, traz sequências tenebrosas de jovens penduradas em ganchos de açougue por um psicopata, à la "Hannibal"; há fartura de suicídios e assassinatos, além perseguições cheias de tiros. Nenhuma delas pesa tanto quanto as que mostram violência doméstica e abuso psicológico recorrentes.

Dividida em oito capítulos, "Bom Dia, Verônica" é a adaptação do livro homônimo do romancista Raphael Montes, que assina também o roteiro, com a criminóloga e escritora de não ficção Ilana Casoy, lançado pela editora DarkSide no ano passado. Ganhou, na Netflix, direção do ex-Conspiração José Henrique Fonseca ("Mandrake") e um elenco encabeçado por Tainá Müller, Camila Morgado e Eduardo Moscovis.

Müller, a Verônica do título, é filha de policial e trabalha como escrivã na delegacia comandada por seu padrinho —papel de Antonio Grassi, sempre bem ao encarnar personagens cafajestes. É casada, mãe de um casal de pré-adolescentes. Quando vê a vítima de um golpista se matar depois de ter sua história desdenhada pelo delegado, ela revive um trauma familiar e resolve investigar o caso por conta própria.

Aturdida, acaba oferecendo seu telefone em uma entrevista de TV para ouvir mulheres que sofrem abusos. Dessa forma, conhece, além de outras vítimas do "boa-noite, Cinderela" original, Janete (Morgado), que vive em uma realidade escatológica criada pelo marido tenente-coronel da PM, Brandão (Moscovis).

O que torna os psicopatas e sociopatas de Verônica —não só os que ela persegue, como também os que a rodeiam— especialmente assustadores é a constatação de que eles se alimentam da baixa autoestima das mulheres que atacam, seja porque elas pensam não ter o corpo ideal, ou porque acreditam ser aptas a somente um tipo de trabalho, ou porque temem não conseguir viver sem marido.

Ao se enxergarem impotentes, elas se tornam presas para abusadores que, em larga medida, contam com a anuência da sociedade para se comportarem da forma que o fazem.

A série tem lapsos de roteiro, um tanto rocambolesco ao embrulhar num mesmo pacote elementos e clichês típicos de histórias de serial killer a outros problemas muito brasileiros, como corrupção policial, machismo estrutural et cetera. Ainda assim, a potência da história e das atuações dá conta de prender o espectador e o recompensar.

Em seus melhores momentos, como na cena em que uma delegada pouco empática humilha uma vítima do golpista ao culpá-la por ser enganada, "Bom Dia, Verônica" levanta discussões relevantes e extremamente realistas como outra boa produção recente da mesma plataforma, "Inacreditável". Nos piores, dá nos nervos, mas é suficiente para entreter. O saldo não é ruim.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.