Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho
Descrição de chapéu Maratona

'Bridgerton' ousa na forma do romance de época com negros no papel de nobres

Despretensiosa no conteúdo, série da Netflix opta por uma ação afirmativa, e é ótimo como isso enfim soa natural

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Fãs de Jane Austen (e de “Downton Abbey”) que resistirem à tentação das comparações encontrarão em “Bridgerton” um romance de época que cumpre bem seu papel de entreter num fim de ano em que não nos resta nada além de ficar em casa.

Despretensiosa no conteúdo e ousada na forma —um elenco multirracial encarna cortesãos britânicos— a série que estreou na Netflix no dia de Natal tem aquele quê de intriga, romance, rivalidades e protoemancipação feminina que dão a graça do gênero.

Por trás da produção está Shonda Rhimes (“Grey’s Anatomy”, “Scandal”, “How to Get Away with Murder”), a responsável por naturalizar a diversidade de elenco em séries que não tratam, especificamente, de famílias negras ou asiáticas ou latinas —o que casa bem com a Netflix e seu esforço por refletir a globalidade de seu público.

Escrita por Chris Van Dusen, parceiro criativo de Rhimes, e inspirada na série de livros de Julia Quinn, conta a história de uma família aristocrática na Inglaterra do período regencial à procura de um marido para a filha mais velha, Daphne (Phoebe Dynevor, a cara de Audrey Hepburn). Em busca de um raro casamento por amor, ela se torna amiga de Simon Basset (Regé-Jean Page), o herdeiro amargurado de um duque perverso que o rejeitou.

Seguindo o script do gênero, eles terão encontros e desentendimentos ao longo dos oito episódios, que escalam em densidade conforme o relacionamento e a série avançam. Ficar junto, aqui, é o menor dos problemas —há outros mais elaborados a escavar questões como medo, aparência, legado e a própria ideia de casamento.

O casamento, aliás, é examinado sob múltiplos olhares —da mulher que odeia o marido, mas mantém as aparências, à mocinha que esconde a gravidez e precisa urgentemente de um par.

Tudo alinhavado pela narração deliciosa de Julie Andrews, a voz da misteriosa lady Whistledown, colunista social de identidade oculta que alimenta as ambições e frustrações da corte da rainha Charlotte e cuja identidade é o mistério da série.

Escolher como cenário a corte de Charlotte, mulher do rei George 3º (que enlouqueceu no início do século 19), embute uma provocação: não são poucos os historiadores que apontam a ancestralidade africana da rainha, apagada pela alvura de seus retratos, mas explícita nos traços dessas mesmas representações.

Com a rainha na pele de uma atriz birracial (Golda Rosheuvel) e com outros atores negros no papel de nobres, “Bridgerton” desvia da realidade alternativa (adotada, por exemplo, por “Hollywood”, com seus gays fora do armário e negros respeitados em plenos anos 1950) e opta por uma ação afirmativa, o caminho reverso daquele tomado durante todos os séculos em que atores brancos se pintaram para interpretar personagens negros em palcos e telas.

E é ótimo como finalmente isso soa natural.

A coluna sai de férias e volta em fevereiro. Que 2021 seja mais gentil com todos nós.

‘Bridgerton’ está disponível na Netflix

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