Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'Amigas para Sempre' desperdiça Katherine Heigl com overdose de açúcar

Após hiato de quatro anos da atriz, melodrama da Netflix erra ao apostar em flashbacks bizarros e excesso de clichês

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Há pouco que se salve em “Amigas para Sempre”, a esperada volta às telas de Katherine Heigl, protagonista serial de comédias românticas dos anos 2000, em um papel principal após um hiato de quatro anos.

Fãs da atriz catapultada à memória coletiva como a Izzy da longeva “Grey’s Anatomy” não precisam se assustar: a culpa não é dela — e nem da coprotagonista, Sarah Chalke, outra queridinha do horário nobre televisivo de 20 anos atrás pela comédia médica “Scrubs”.

Cena da série 'Amigas para Sempre', da Netflix
Cena da série 'Amigas para Sempre', da Netflix - Divulgação

Não que quem acompanhe Heigl se surpreenda com pitadas extras de açúcar e lágrimas em seus projetos, mas o caso do roteiro de Maggie Friedman é de abuso de açúcar e overdose de estereótipos, o que abafa, na maior parte do tempo, o talento dramático da dupla central.

Como um par de amigas de personalidades opostas, as duas são a única coisa que mantém o espectador ligado e, em alguns momentos, até tornam a história crível.

Mas o roteiro é indigesto, e pouco ajuda o fato de tudo estar embalado no onipresente clichê da mulher de 40 anos bem-sucedida porém em crise existencial, que traz uma taça de vinho como apêndice e usa piadas de sexo apenas quando quer esconder frustrações (como se não pudéssemos fazê-las sem outro propósito).

“Amigas” segue a vida da dupla em três momentos, que se entrelaçam nos episódios sem nenhuma sutileza ou lógica: nos anos 1970, aos 14 anos, quando elas se conhecem e selam a amizade; nos anos 1980, quando estão na faculdade e começam a carreira de jornalistas, e em 2003, o tempo presente da série.

Aos 43, Heigl é Tully, a-mulher-de-sucesso-na-carreira-que-se-sente-solitária-mas-trepa-muito-para-esquecer, e Chalke é Kate, a mãe-que suspendeu-a-vida-profissional-e-questiona-seu-potencial. Juntas, elas vivem grandes aventuras e enfrentam tremendas confusões.

Sim, quem pensou “sessão da tarde” acertou, e quem pensou em romance barato e novelão, também. Entre risos e brindes, há sexo e drogas e um sem-fim de desgraças como abuso sexual, assédio, abandono, homofobia, bullying, traição, divórcio, doença, além de tentativas frustradas de suspense.

As linhas temporais seguem quase como histórias paralelas, o que leva o drama da fase adolescente (na qual a dupla é vivida por Ali Skovbyee Roan Curtis, que aparenta um estado de perpétuo torpor) ou da fase presente, mais complexo, muitas vezes a ser interrompido abruptamente pelo humor nonsense e cheio de figurinos espalhafatosos da fase intermediária.

O tema da amizade feminina e suas especificidades é perene e suscitou centenas de livros, filmes e séries. Alguns —“Fleabag”, “Big Little Lies”, para ficar nos mais recentes— brilham, outros são menos memoráveis e ainda assim obtiveram resultados.

Aqui, a dimensão adulta das personagens se perde entre flashbacks aleatórios e a ideia de que todos os personagens se amam e querem apenas o melhor para os outros, uma casca oca que disfarça a relação abusiva e muitas vezes tóxica entre as duas protagonistas.

"Amigas para Sempre" está disponível na Netflix​

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