Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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'Your Honor' marca volta de Bryan Cranston como juiz após 'Breaking Bad'

Novamente, personagem do ator abdica de valores para salvar sua família

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Eis novamente Bryan Cranston vivendo um pai de família modelo disposto a se corromper para proteger os seus em uma cidade na qual o crime organizado dá as caras.

Não é “Breaking Bad”, a série de referência da virada da década passada que catapultou Cranston, 65, de coadjuvante cômico a protagonista dramático reverenciado com seu temível Walter White. É “Your Honor”, série produzida pela americana Showtime que chegou ao Brasil neste mês pelo Paramount+, na qual ele vive o juiz Michael Desiato.

Há muitas semelhanças entre o juiz Desiato e o professor de química convertido em megatraficantes, ainda hoje o anti-herói absoluto no panteão da TV contemporânea (com, talvez, Tony Soprano no páreo).

Também ele é um pai-de-família-e-servidor-público-honesto, também ele se afunda na areia movediça de uma máfia nos EUA profundos (Nova Orleans) e também ele como par um jovem meio perdido.

Aqui, contudo, o ex-aluno dá lugar ao filho, o inseguro Adam, que se vê num redemoinho após atropelar acidentalmente o filho de um mafioso. No papel do Desiato mais jovem, Hunter Doohan faz uma estreia fenomenal como coprotagonista.

Inspirada na série israelense “Kvodo”, exibida de 2017 a 2019, “Your Honor” não tem o mesmo brilhantismo narrativo de “Breaking Bad”, que conseguiu construir um arco perfeito em suas cinco temporadas. Aqui, falamos de material mais convencional, e os 10 episódios que compõem a temporada única a inscrevem na categoria de “minissérie”.

Como a barra a ser alcançada era mesmo muito alta, nada disso é demérito.

A produção consegue fazer jus ao aguardado retorno de Cranston a uma papel de peso em uma série, após brilhar em dois filmes baseados em personagens reais, “Trumbo”(2015) e "All th Way" (2016), adaptação da peça de teatro, também protagonizada por ele, sobre o presidente americano Lyndon Johnson.

Além disso, coloca em evidência os superpoderes da magistratura, tema sempre atual. O juiz de Cranston, a princípio, é exemplar. Mas quanto é possível torcer o sistema para que ele lhe favoreça?

E, conhecendo esse sistema, quanto é possível mover suas peças com a determinação de um objetivo pessoal? Quão rápido a índole de “pessoa-de-bem”, esse termo vazio adorado por tantos, desmorona quando o objetivo é salvar a própria pele ou a dos seus?

E como esse sistema funciona para, perpetuamente, se voltar contra aqueles mais vulneráveis, justamente os que deveria resguardar?

Cranston está impecável, como sempre, em uma interpretação mais desassombrada que as suas recentes (é impressionante como, apesar de tantos pontos afins, ele consegue compor o juiz de forma totalmente distinta do professor-traficante). E Hope Davis, como a mulher do chefão mafioso que perde o filho abruptamente, se contrapõe perfeitamente ao anti-herói.

Por dez horas, dá quase para esquecer de mortos de verdade e pensar apenas nesses fictícios, tão mais confortáveis.

"Your Honor" está disponível no Paramount+, que além da plataforma própria pode ser acessado na Amazon Video, no UOL Play, na Claro e outras

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