Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho
Descrição de chapéu Maratona

Sitcom 'Meu Pai e Outros Vexames', com Jamie Foxx, soa como um refugo

Série parece uma grande piada de tiozão que aprendeu algumas gírias e quer se enturmar com adolescentes

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É difícil entender por que Jamie Foxx, um ator premiado e multitalentoso, inventou de fazer "Meu Pai e Outros Vexames", que estreou nesta semana na Netflix e na qual ele encarna o protagonista e outros personagens.

Pode ser uma tentativa de retomar suas raízes cômicas (sim, o ator oscarizado em 2004 pelo desempenho excepcional no filme "Ray", começou fazendo sitcoms no final do milênio passado), pode ser uma tentativa de rejuvenescer seu público, pode ser um jeito de matar tempo nesta interminável quarentena. Não importa. A série, em si, é vexatória.

Há, sim, algumas boas gags. Foxx é um grande imitador, e, à moda de um Eddie Murphy e outros da sua geração e da anterior, dá conta de desfilar múltiplos personagens em cena —o mais destacado deles desta vez, um pastor pentecostal com ares de astro da música.

O abismo comportamental entre o pai solteiro e a filha adolescente também rende uma e outra risada, e a evocação das manias da geração TikTok somente ressalta o quanto essa dinâmica é perene, não importa quais as gerações a protagonizem.

Talvez, portanto, o maior defeito de "Meu Pai e Outros Vexames" seja a hesitação em modernizar a linguagem.

A sitcom tradicional, no palco, com plateias e risadas, parece um resquício de outra era. Para que ainda funcione, é preciso inovar no texto e atualizar as piadas.

Foxx, na contramão, parece mais preocupado em fisgar a memória afetiva de quem o viu na telinha em "In Living Color", série de esquetes com elenco majoritariamente negro dos anos 1990, ou em seu "The Jamie Foxx Show" (1996-2001).

Os gestos histriônicos, os personagens em forma de caricatura e a temática batida acabam por apartar "Meu Pai e Outros Vexames" de qualquer similar atual.

Não importa quantos emojis apareçam na abertura, tudo soa excessivamente como uma grande piada de tiozão que aprendeu algumas gírias e quer se enturmar com adolescentes.

Kyla-Drew, que interpreta Sasha, a filha adolescente, é a única que parece um ser humano mais ou menos real.

David Alan Grier cumpre por tabela o papel do avô de Sasha e pai de Brian (o empresário do ramo de cosméticos vivido por Foxx). É estranho vê-lo como pai de seu antigo colega de elenco em "In Living Color", que é meros 11 anos mais novo.

Difícil acreditar que com tantos nomes bons juntos —Foxx, Grier, a própria Netflix—, a série dê tão errado, mas dá.

"Meu Pai e Outros Vexames" também marca uma onda de lançamentos pouco empolgantes da plataforma, que inclui coisas inassistíveis como a mexicana "Quem Matou Sara" e a rocambolesca "The One".

É como se a régua da plataforma, antes tão inovadora, tivesse despencado bem quando a concorrência se multiplicou, e suas apostas agora parecem refugos da TV aberta de três décadas atrás, justamente aquela que ela dizimou. Que o hiato seja breve.

Os oito episódios de ‘Meu Pai e Outros Vexames’ estão disponíveis na Netflix

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