Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

Em 'Halston', estilista dos anos da disco reencarna em Ewan McGregor

Mais sutil do que de costume, Ryan Murphy faz jus ao minimalismo das roupas do biografado

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Ewan McGregor tinha 25 anos quando foi catapultado à fama global como Renton, o inefável protagonista de "Trainspotting". Transcorrido outro quarto de século, o ator escocês retoma um personagem igualmente às voltas com a dependência química e a contestação de limites sociais, o estilista Halston, na minissérie homônima que estreia nesta sexta na Netflix.

Entre um e outro, colecionou papeis memoráveis sob diretores idem –Obi-Wan Kenobi, o Christian de "Moulin Rouge", o contador de histórias de "Peixe Grande", os gêmeos da série "Fargo" (há mais).Por isso é tão surpreendente vê-lo se dissipar por completo sob o sotaque peculiar e os gestos elegantes do artista que mudou a estatura da moda americana.

Diferentemente da turma retratada no livro de Irvine Welsh e no filme de Danny Boyle de 1996, Halston é real, ainda que sua trajetória pareça extraída de um drama de Dickens transposto para a Nova York dos anos 1960-70-80. Com ele, desfilam na tela personagens da cena disco, quando não havia Instagram e a medida de sucesso de uma celebridade era a turba que se aglomerava para vê-la entrar no clube Studio 54.

Vestido de preto, ator segura estatueta dourada
Ewan McGregor em cerimônia do Globo de Ouro de 2018 - Lucy Nicholson/Reuters

Ali orbitavam a multiartista Liza Minelli, a designer de joias Elsa Peretti, o estilista (depois cineasta) Joel Schumacher e mais uma turma eclética, de michês a empresários, de madames a artistas transgressores. Foi a era da cocaína como status, pré-Aids, pós-guerras, quando tudo borbulhava numa catarse contínua.

Nessa cena tão esfuziante, Halston ainda sobressaía.

Criado entre os soporíferos estados de Iowa e Indiana, interessou-se por moda cedo, confeccionando chapéus para consolar a mãe dos abusos cometidos pelo pai. Cresceu, estudou moda na cidade de Chicago, foi trabalhar em Nova York e caiu nas graças da primeira-dama –é dele o chapeuzinho icônico que Jackie Kennedy usou na posse do marido, em 1961.

Assim ele decolou. Abriu sua grife de roupas, com vestidos minimalistas e esvoaçantes, criou tecidos tecnológicos, incutiu a ideia de funcionalidade na moda. Criou seu séquito glamouroso de modelos fiéis (a atriz Anjelica Huston foi uma delas), com a aposta pioneira na diversidade étnica, e conquistou respeito entre os pares dos dois lados do Atlântico.

Mas os excessos (de droga, de sexo desprotegido e principalmente de ego) passaram a esfacelar sua vida de forma irreversível, até sua morte, aos 57, em decorrência do HIV, em 1990. O mesmo ocorria com sua linha de roupas, que, vendida e revendida a grandes investidores em buscas da massificação, saiu aos poucos de seu controle.

Como toda produção assinada por Ryan Murphy ("Hollywood", "American Crime Story"), esta é visualmente impecável. Mas, ainda que traga música e algum histrionismo às cenas, o registro é muito mais sutil que o de costume.

Possivelmente, para fazer jus ao minimalismo com que o estilista criava suas roupas, num paradoxo constante com a explosão que era sua vida.

Os cinco episódios de 'Halston' estão disponíveis a partir desta sexta (14) na Netflix

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