Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'Onde Está Meu Coração' traz delicadeza ao quebrar estereótipos sobre o crack

Ultrarrealista, série da Globoplay conta com interpretações magistrais de Letícia Colin e Mariana Lima

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O que leva uma pessoa a deixar família, emprego, conforto, paixões e propósitos de lado e mergulhar no consumo compulsivo de alguma droga?

A minissérie "Onde Está Meu Coração", que estreou no início do mês na Globo e tem seus dez episódios já disponíveis no Globoplay, dá com delicadeza e realismo a resposta para essa pergunta: qualquer coisa. Para quem tem propensão —algo que nunca se sabe a priori— os gatilhos surgem de momentos difíceis, alegres, tediosos, tensos. Não importa.

George Moura e Sergio Goldenberg, que assinam uma obra sólida como dupla ("O Rebu", "Amores Roubados", "Onde Nascem os Fortes"), contam agora a história de Amanda, médica em início de carreira, de família de classe média alta, que passa a usar crack recreativamente e logo se vê consumida pela substância.

Para olhos alheios, Amanda tem tudo. A família que a ama, o casamento feliz, o emprego que a motiva, amigos bacanas, conforto financeiro, vontade de melhorar o mundo. Eis então que a própria personagem se encarrega de explicar a compulsão que a domina: "Eu queria que a minha vida fosse ainda mais perfeita". "Queria resolver todos os meus problemas de uma vez."

Em vez de se dissiparem os problemas, dissipa-se ela.

A interpretação de Letícia Colin, embalada por Nick Cave, Lou Reed, Nina Simone, Caetano Veloso e Sinatra, é metade da força da minissérie. Ora altruísta ora egoísta, ela equilibra tragédias e privilégios de forma convincente. Não é coitada, tampouco vilã. Nem sequer é diferente de quem a cerca ou de quem assiste a ela, e aí está o mérito de Moura e Goldenberg.

Pois, sim, os demais personagens também são movidos por suas compulsões.

Em sua família, há o alcoolismo de David (Fábio Assunção), que também gosta de acumular relacionamentos; há o impulso por salvar o mundo de Sofia (Mariana Lima, incrível), que busca no cuidado do outro uma forma de não pensar em si mesma; há a religiosidade mística de Júlia (Manu Morelli). Fora dela, o marido, Miguel (Daniel Oliveira), é obsessivo com o próprio ego, em delírios de grandeza; e a prepotente Vivian (Camila Márdila) não aceita perder nada.

Embora mais aceitas socialmente, no caso da primeira e das duas últimas, são compulsões não necessariamente menos destrutivas para aqueles que estão em volta. E aí a série propõe outra discussão: por que criminalizar o usuário de droga, o dependente? Qual benefício ou retorno social pode se esperar disso? Por que haver drogas lícitas (remédios, cigarro, bebida, que correm fartamente entre os personagens) e ilícitas?

Não há libelos aqui, mas "Onde Está Meu Coração" é eficiente em mostrar o que todos que acompanham alguém em tratamento, ou que se tratam, sabem. Dependência é doença que atinge indistintamente gente de todo tipo. Pode ser tratável, administrável, jamais curada. Nas horas de lucidez, vale até certo ponto a "força de vontade". Rede de apoio e compreensão social valem mais.

Os dez episódios de 'Onde Está Meu Coração' estão disponíveis no Globoplay

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