Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'The Mosquito Coast' faz atualização esperta de thriller da década de 1980

Romance, agora uma série da Apple com Justin Theroux, já foi filme com Harrison Ford

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A Apple TV conseguiu um resultado surpreendentemente bom ao atualizar "The Mosquito Coast", romance de Paul Theroux lançado em 1981 e vertido para filme em 1986, quando Harrison Ford interpretou o inventor que resolve deixar os Estados Unidos com a família para viver sua utopia em Honduras.

De roupa nova, a série ganhou como protagonista Justin Theroux, sobrinho do autor e conhecido pelo papel do policial perdido em "The Leftovers" (HBO). Ele é Allie Fox, o mesmo inventor que acredita em teorias da conspiração e na possibilidade de uma vida que não seja movida pelo consumo.

Dessa forma, Allie Fox cria os filhos, Charlie e Dina (Gabriel Bateman e Logan Polish, ótima revelação), com a mulher, Margot (Melissa George —no filme de 1986, era Helen Mirren, e o menino, o finado River Phoenix).

A diferença, aqui, é que sabemos que Allie está fugindo do governo americano e utiliza uma identidade forjada. O que não sabemos é o porquê.

Há ainda, na série da Apple TV, uma releitura importante do momento político. O original mostrava Allie e família se embrenhando por uma floresta tropical e esbarrando em figuras sinistras que misturavam religiosidade e o imaginário americano sobre a região.

Em plena transformação social e sob volatilidade política, a América Central, nos 1980, era considerada um poço de problemas pelos EUA, que temiam o alinhamento dos quase vizinhos à ainda existente União Soviética e ali intervieram, alimentando a crise.

Em 2021, os Fox precisam, para fugir de seu governo, cruzar a fronteira do México com auxílio de coiotes (contrabandistas de gente), fazendo o caminho inverso daquele trilhado por milhares de imigrantes irregulares todos os anos —muitos deles, aliás, vindos de uma América Central combalida por crises e violência cuja raiz está exatamente nos conflitos passados que os EUA alimentaram.

Pelo caminho, existem os esqueletos dos migrantes tentativos e existem aqueles que assombram o passado do casal, não revelados nem sequer para os próprios filhos.

E, como no original, ao deixar o território americano não é exatamente o paraíso que aguarda os Fox. Também no México eles serão perseguidos, agora pelo para-Estado gerido por narcotraficantes.

Theroux é um ator com mais atitude que Ford (desculpem-me os fãs), ainda que o eterno Indiana Jones tenha em "Mosquito Coast" um de seus trabalhos mais elogiados. Seu Allie navega entre o soturno e o ingênuo, muitas vezes sendo resgatado de volta à realidade pelos filhos. Já a Margot de George é uma incógnita perene, o que faz o espectador duvidar se ela é escudeira leal ou a real responsável pela fuga.

O roteiro ágil de Tom Bissell e Neil Cross ressuscita algo que se dissipou com o advento das séries para maratonar, o gancho com suspense real entre um episódio e outro. Dos sete episódios, cinco já foram ao ar, e o sexto cai nesta sexta-feira (28). Vale sorver devagar.

Os primeiros episódios de 'The Mosquito Coast' estão disponíveis na Apple TV+; os demais vão ao ar às sextas-feiras

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