Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'Nove Desconhecidos' não é nem placebo para os órfãos de 'Big Little Lies'

Série peca pelo 'Nicolecentrismo', mas pode ser paliativo para os fãs de 'The White Lotus'

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As duas se amparam em um mistério, ambas têm ricos problemáticos como protagonistas, um hotel-spa paradisíaco como cenário e crítica social de pano de fundo. As semelhanças entre "White Lotus", da HBO, e "Nove Desconhecidos", que estreou no Amazon Video na semana passada, são muitas. A "energia" das produções, entretanto, não poderia estar mais distante.

"Nove Desconhecidos", com Nicole Kidman à frente de um elenco conhecido e produção estrelados, aposta no sadismo. O que nos fisga na série, mais que o mistério por trás da guru Masha (Kidman, forçando um sotaque russo), é ver gente tão lustrosa se dar mal.

"White Lotus", como colegas resenhistas apontaram, exige um grau de masoquismo. Sua caricatura social é tão aguda e as personalidades que desfilam são tão perversas que não há episódio no qual não nos encolhamos de vergonha alheia. Nem que não nos condoemos da lógica de darwinismo social extremada.

Se "White Lotus" cresce e surpreende conforme avança, "Nove Desconhecidos" patina na expectativa que a precede.

Afinal, é assinada pelo midas David E. Kelly, adaptada de um livro de Liane Moriarty, tem Kidman. E há Melissa McCarthy, que com Bobby Cannavale constrói um par não-romântico para fazer jus a seu talento cômico e sua extensão dramática. É a turma da arrebatadora "Big Little Lies" (exceto McCarthy e Cannavale), mas o enredo não avança com a mesma fluência e acidez.

Pesa contra o excesso de personagens. A história revolve em torno dos nove hóspedes de um spa exclusivíssimo, mais seus poucos funcionários, mais sua misteriosa diretora. Aos poucos, vidas pregressas, idiossincrasias e neuroses vêm à tona, de maneira mais sutil do que em "White Lotus". Com tanta gente em cena, porém, sobra pouco tempo para desenvolvê-las a contento.

Um elemento constante é a origem de Masha, cujo passado envolve imigração, sucesso empresarial e uma quase morte após levar um tiro. Isso se dilui quando, de musa inefável, ela passa a uma presença sombria a pairar sobre funcionários e hóspedes.

A solidão da escritora Frances (McCarthy) e a derrocada do esportista Tony (Cannavale) têm algum espaço, assim como as dores da família Marconi (Michael Shannon, Asher Keddie e Grace van Patten) e algo do gerente Yao (Manny Jacinto, de "O Bom Lugar"). Dos demais, há apenas vislumbres, o que é uma pena.

A mãe à beira do descontrole de Regina Hall merecia mais, assim como o cínico Lars (Luke Evans), empedernido por uma relação. Bizarramente, Masha é a personagem menos interessante, um paradoxo com o magnetismo de Kidman, aqui muito mais para a rasa Grace de "The Undoing" do que para a magnífica Celeste de "Big Little Lies".

A série teve três dos oito episódios disponibilizados na estreia, e é difícil esperar mais, dado o "Nicolecentrismo". Resta lugar de urubus e a sintonia do elenco. Para órfãos de "White Lotus", pode ser um paliativo. Para os de "Big Little Lies", não é nem placebo.

Os três primeiros episódios de "Nove Desconhecidos" estão disponíveis no Amazon Video, e os demais são liberados a cada sexta-feira

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