Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona Séries

'Ted Lasso', comédia líder no Emmy, faz sucesso em meio à falta de otimismo

Série protagonizada por técnico quixotesco não é boa, mas ganha destaque pela mensagem positiva

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"Ted Lasso", a comédia que lidera as indicações para o Emmy deste ano, a ser entregue neste domingo (19), não é uma boa série. Não que seja ruim —há um roteiro decentemente amarrado e um protagonista cativante. Mas não há grandes brilhos, não é hilária, não faz pensar e pode ser irritante.

O que explica, então, seu notável sucesso, sobretudo quando considerado o alcance relativamente limitado da plataforma de streaming que a produziu e lançou, a Apple TV+? Otimismo. Um inabalável, ostensivo e hipnótico otimismo.

"Lasso" é uma comédia quixotesca sobre um técnico de futebol americano que é contratado para treinar uma equipe inglesa com torcedores apaixonados e resultados medíocres após um vídeo seu fazendo uma dancinha da vitória com seu time do Kansas, Estados Unidos profundos, viralizar.

Sem saber nada sobre o futebol verdadeiro, ele aceita o convite e cruza o Atlântico acompanhado de seu Sancho Pança, que responde por técnico Barba. O intuito da presidente do time, no entanto, não é levá-lo à glória, mas à desgraça, e assim enlamear o nome do ex-marido adúltero, seu antecessor no comando do clube.

Como todo bom Quixote, Ted é inabalável. Não importa quão inóspito seja o ambiente. A torcida o despreza? O time não o respeita? A mulher o deixa? A chefe tenta sabotá-lo? O jogador estrela é um imbecil? Tudo bem. Aos poucos, sua determinação faz com que os jogadores —do mais empedernido ao mais deslumbrado— acreditem que possam triunfar. É aí que tudo dá certo —ou errado, dependendo do ponto de vista.

Seria o conto clássico, com aquele verniz americano meio fake de que qualquer um pode superar qualquer adversidade, somado a alguma graça em cima do futebol e das figuras que o povoam. O que faz diferença é Jason Sudeikis, comediante egresso de duas grandes escolas do humor, a companhia de teatro Second City e o longevo programa de esquetes "Saturday Night Live".

Rosto e voz conhecidos do público —ele estrelou cinco comédias ao lado da ex-"Friends" Jennifer Anniston e algumas dezenas de produções— Sudeikis não tinha, até então, um grande personagem para chamar de seu. Ted Lasso mudou esse jogo. A caipirice em tela, meio Peter Sellers —para honrar o cenário inglês da série—, meio Frank Capra, só funciona porque, em que pesem exageros naturais do gênero, é genuína e respeitosa —o ator de fato cresceu no Kansas, onde começou sua carreira.

É um aceno ao que há de positivo na natureza humana, já meio esquecido depois de um ciclo de crises no mundo cujo ápice foi a pandemia. Não torcer por ele exigiria um nível de cinismo arriscadamente fatal.
A estreia da segunda temporada foi o episódio mais visto do Apple TV+, superando "The Morning Show", com Anniston, e "Servant", de M. Night Shyamalan, e arrebatou outros prêmios. Prova de que otimismo anda mesmo em falta.

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