Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'O Hóspede Americano' reapresenta ao público um Brasil que está em falta

Sem maniqueísmo, série sobre Theodore Roosevelt e marechal Cândido Rondon nos serve de chamamento

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É uma história tão fascinante quanto improvável a que conta "O Hóspede Americano", minissérie do cineasta Bruno Barreto que agora tem todos os seus quatro episódios disponíveis na HBO Max. No início do século passado, um ex-presidente americano e o maior dos expedicionários brasileiros mapearam um rio amazônico, de onde nasceu uma amizade improvável e um curso d'água com nome gringo no meio da floresta.

O americano é Theodore Roosevelt, que, desgostoso com a política após servir dois mandatos e se desentender com o aliado que o sucedeu, decide pelo escapismo um tanto literal —retomar suas pretensões de explorador e "descobrir" um novo rio tropical. O brasileiro, claro, é o marechal Cândido Rondon, vivido pelo infalível Chico Diaz.

Pela lente de Barreto —de "O Que é Isso, Companheiro?"—, os dois homens recebem um olhar simpático. Não maniqueísta —o voluntarismo de Roosevelt e a severidade de Rondon com sua tropa estão ali—, mas que ajuda a compor uma imagem heróica de seus feitos.

Criança indígena envolta em bandeira do Brasil diante de oca
Criança indígena envolta em bandeira do Brasil durante as filmagens de 'O Hóspede Americano', série da HBO Max dirigida por Bruno Barreto - Divulgação

(Roosevelt é o presidente americano que se tornou conhecido pela política do "big stick", aquela que pregava falar manso e levar um taco para dar porrada se necessário. Em tela, traços desabonadores são ofuscados pela interpretação do ator Aidan Quinn, que faz do estadista belicista quase um menino.)

Com a política de pano de fundo, o que interessa a "O Hóspede Americano" é a aventura: Rondon e Roosevelt, o primeiro acompanhado de militares, o segundo de um padre, um naturalista e o filho, se embrenham por uma região pouco conhecida para mapear o então rio da Dúvida, de nascente conhecida e foz ignorada, que depois viria a se chamar rio Roosevelt —o brasileiro batizaria o estado onde ele nasce, Rondônia.

Por dois meses, o grupo passaria por perdas, acidentes, doenças, brigas, ameaças e mortes. Mostrando a convivência entre dois homens de personalidade antagônica que buscavam inscrever seus nomes naquela terra e deles com a natureza e os indígenas, as cenas filmadas em Alta Floresta —em Mato Grosso— na bonita fotografia de Rodrigo Monte transbordam, compensando o ritmo arrastado no que poderia facilmente ter sido abreviado num filme de duas horas.

É nesses momentos que a minissérie brilha e dá grandeza à história contada nos livros de Larry Rother ("Rondon", de 2019) e de Candice Millard ("O Rio da Dúvida", de 2007) —ambos publicados pela Companhia das Letras.

O tom ufanista, usado por Barreto com parcimônia que o livra do mau gosto, nos serve de chamamento. Primeiro, por nos reapresentar dois visionários quando parecemos imersos em obscurantismo —Roosevelt criou os parques naturais americanos como área de preservação; Rondon alargou o mapa brasileiro e fez contato com diversas tribos indígenas sem dizimá-las como a maioria de seus pares.

Segundo, por mostrar uma visão de progresso que se ampara na compreensão do ambiente, e não em sua destruição. Com 120 anos, é mais moderna que a de muitos governantes aí.

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