Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona Séries

'Você', na Netflix, assume vocação para novela em terceira temporada

Novos episódios têm menos suspense, mas investem no humor e em críticas à vigilância permanente do mundo digital

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O sucesso da terceira temporada da série "Você", que estreou neste mês na Netflix, mostra que o conto de suspense em que um psicopata de boa aparência persegue mocinhas pela internet e se transforma no homem dos sonhos para depois infernizá-las se converteu, de vez, em novelinha (sem demérito).

Já não há surpresas na história de Joe (Penn Badgley), o maníaco em questão, e Love (Victoria Pedretti, de "A Maldição da Mansão Bly"), sua alma gêmea. Os mistérios e reviravoltas se deram nas temporadas anteriores; as mortes seguintes se apresentam nos primeiros capítulos, e a grande graça desta vez é saber se os assassinos serão ou não pegos.

Cena da terceira temporada de 'Você', da Netflix
Cena da terceira temporada de 'Você', da Netflix - Divulgação

Mas há algo mais. Se em seus dois primeiros anos "Você" seguia os passos de Joe, o protagonista-narrador, agora ela se estrutura na dinâmica entre o casal central, que acaba de mudar para uma cidadezinha soporífera na Califórnia a fim de criar seu bebê no melhor dos mundos. Um mundo, claro, que não pressupõe pais criminosos.

Com isso, ganha-se em humor (as cenas de terapia de casal, por exemplo) e perde-se em suspense. Depois de 20 episódios, não é uma troca ruim —e a reação do público parece comprovar isso.

A trama é retomada da mudança do casal e seu bebê para Madre Linda. Os dois estão determinados a abandonar seus antigos hábitos em prol do bem-estar da criança.

Assim, financiados pela família dela, começam a tal vida nova em um bairro onde as pessoas não têm preocupação com dinheiro nem com outras questões mundanas, mas sim com imagem: nas redes sociais, na comunidade local ou mesmo no autoengano diário.

A coleção de novos vizinhos é tão insuportável —e com traços tão reconhecíveis da cultura contemporânea— que fica difícil não simpatizar com a dupla alucinada conforme eles recaem nas antigas compulsões. E, ao mesmo tempo, torcer para que o bebê saia ileso.

O senso de comunidade, que se contrapõe aos personagens mais individualistas ou solitários das temporadas passadas em Nova York e Los Angeles, logo se mostra farsesco, abrindo espaço, de relance, para uma crítica mais ferina de nossas relações sociais.

Afinal, num mundo virtualizado, a cidadezinha não é mais tão diferente da metrópole —e a padaria hipster de Love ou a biblioteca com tomos raros em que Joe se ocupa, na falta de uma livraria, estão ali para reforçar essa ideia.

A constante exposição que oferecemos ao nosso público (amigos? ou seguidores?) e a permanente vigilância a que nos submetemos nessas diversas redes continuam a ser o pano de fundo e o alerta que "Você" faz: nunca tanto a respeito de nós esteve disponível para consulta alheia, mas também nunca pareceu tão difícil discernir a persona meticulosamente criada para essa apreciação daquela que deita a cabeça no travesseiro.

Não que a série se proponha a grandes debates —ela se basta com um enredo bem engendrado, vez ou outra interrompido pela narração excessiva de Joe em off. Novela eficiente é assim.

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