Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona Séries

'And Just Like That' mantém as provocações e o viço de 'Sex and the City'

Parte do elenco original volta para falar de envelhecimento, inadequação, cabelos grisalhos e mudanças de paradigma

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É estranho reencontrar 75% do quarteto de "Sex and the City" em "And Just Like That...", sequência da série icônica da virada do milênio, 17 anos depois. Mas mais reconfortante, felizmente, que suas mal fadadas versões cinematográficas.

De "Girls" (2012-2017) à nova "A Vida Sexual das Universitárias", as pegadas deixadas pelos sapatinhos Manolo Blahnik foram seguidas por uma horda de séries feministas-femininas centradas em um pequeno grupo de amigas desde então. Nenhuma, contudo, memorável como a original.

É rara a série que mereça revisita, pois série boa não costuma deixar nada a ser dito após o fim. Vide "Friends", em que o sexteto de protagonistas, instado a se reunir, preferiu um talk-show a respeito da sitcom do que reviver os envelhecidos personagens. Ou "Arrested Development", cultuada na primeira vida e esquisitíssima ao ser ressuscitada.

Mais comum é a sobrevida em spin-offs ou mesmo refilmar a história, repaginando-a para lhe devolver a relevância.

Assim foi com "O Quinteto", em que a família branca dos anos 1990 virou imigrante mexicana nesta década, e "Anos Incríveis", que na reencarnação ainda inédita no Brasil trata de um garoto negro no racista Alabama dos anos 1960.

"And Just Like That..." (algo como "do nada") prescindiu desses recursos e se manteve atual ao revisitar suas protagonistas, agora mulheres de 50 e tantos anos.

É verdade que faz falta Samantha, a mais original das quatro personagens, reduzida a mensagens e menções após Kim Catrall e a produção se desentenderem. Mas Carrie (Sarah Jessica Parker), Miranda (Cynthia Nixon) e Charlotte (Kristin Davis) seguem impávidas, mais realistas, embora nem todas mais maduras.

As marcas dos percalços da temporada final foram insuficientes, parece, e de cara nos é apresentada uma tragédia (além do alcoolismo de Miranda, que só ela não vê).

Nos dois primeiros episódios, postos no ar nesta quinta (9) pela HBO Max, há tempo bastante para as três falarem de envelhecimento e inadequação, na forma de cabelos grisalhos, tamanho dos filhos ou mudanças de paradigma.

Só o casal Anthony e Stanford (Mario Cantone e Willie Garson, morto recentemente), não mudou nada.
Ao lado dos figurinos, os diálogos continuam sendo o melhor da série. As tentativas de Miranda de se readaptar à vida universitária quando decide se pós-graduar em direitos humanos exploram com uma piscadela provocativa preconceitos e anacronismos que carregamos sem maior culpa até sermos confrontados pelo novo zeitgeist.

Já a incursão de Carrie pelas novas mídias e o constrangimento (dela, a especialista em relacionamento) com o despudor completo da geração que a sucede explicitam que nem todo botox do mundo nos rejuvenesce de fato.

E há novos personagens, dando a série uma maior representatividade. Os roteiristas só não resolveram a conta bancária aparentemente infinita das amigas, que dificulta ao espectador se enxergar ali.

Por ora, está combinada só esta temporada, apresentada como minissérie. Ninguém garante, porém, que o recente e tardio despertar da indústria audiovisual para mulheres pós-50 não mantenha o trio por perto mais tempo.

Novos episódios de 'And Just Like That...' vão ao ar na HBO Max às quintas

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