Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Luciana Coelho
Descrição de chapéu Maratona

'The Dropout' sustenta fascínio da história, mas não de Elizabeth Holmes

Apesar do roteiro intrigante, série simplifica protagonista, que vai de sonhadora a megalomaníaca

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Depois de virar livro e podcast, a história de Elizabeth Holmes —a empreendedora que arrecadou milhões no Vale do Silício, arregimentou Henry Kissinger e George Shultz para seu conselho e enganou centenas de milhares de americanos com a promessa de realizar múltiplos testes com uma gota de sangue— ganhou sua versão minissérie.

Na pele de Amanda Seyfried ("Mamma Mia!"), a empresária condenada por fraude que espera por sua sentença é apresentada como ambiciosa, tenaz, dedicada e alucinada. Mas, em vez da figura convicta e convincente que vimos nas capas de revista, no livro e no podcast homônimo, "The Dropout", a série, que estreou nesta quinta (3) no Star+, constrói uma personagem de carisma mínimo.

Se assistindo às magnéticas entrevistas de Elizabeth e ouvindo as pessoas falarem sobre ela com fascínio é difícil entender como tanta gente experiente embarcou em uma ideia que jamais saiu do papel, na série a equação é impossível.


De qualquer forma, é uma grande história, uma que fala muito sobre estes tempos. Boas conexões, família com poder aquisitivo, beleza midiática e o discurso lustrado ora com feminismo ora com a promessa de ajudar a humanidade são um combo que atrai muita gente disposta a apostar no próximo Steve Jobs —o muso da anti-heroína.

Que falte à Elizabeth de Seyfried o brilho da original não é um detalhe; ainda assim, os feitos notáveis de uma estudante cuja meta era "ser bilionária" e que largou uma das universidades de melhor reputação do mundo após dois semestres para fundar uma empresa de biomedicina sustentam um roteiro intrigante.

A série simplifica a protagonista, atribuindo seu messianismo a frustrações passadas (como a demissão do pai da Enron, falida por uma das maiores falcatruas empresariais do fim do último século) e ao machismo de seu meio.


Muda, também, seu amante e chefe de operações, o paquistanês Sunny Balwani, que de playboy ascendeu a anjo da guarda da empresária. Vivido por Naveen Andrews, o Sayid de "Lost", ele guarda pouca semelhança física com o calvo e parrudo Balwani real, 18 anos mais velho do que Elizabeth.

Embora entremeie o julgamento da protagonista com seu caminho para construir uma empresa de areia, a Theranos, o roteiro deixa lacunas ao contrapor a Elizabeth sonhadora dos primeiros capítulos à megalomaníaca que enganou uma das maiores redes farmacêuticas do país e entregou resultados médicos falsos a seus clientes.

Melhor fazem o livro de John Carreyrou, repórter do Wall Street Journal que desmascarou a Theranos em 2015, e o podcast de Rebecca Jarvis, que desconstrói a menina genial ouvindo aqueles que conviveram com ela. Anna "Delvey" Sorokin fica no chinelo.

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