Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

'Succession' reestreia em março com ar de tragédia grega e epítome do nosso tempo; veja trailer

Há muitas razões para gostarmos tanto de assistir aos Roy se desgraçarem

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"Succession", a melhor série no ar, voltará às telas em 26 de março, anunciou nesta quinta (26) a HBO com um teaser que indica que a guerra autofágica da família Roy tomará contornos mais drásticos.

Não é difícil argumentar por que esta novela de intriga familiar envolvendo um pai e seus quatro filhos na disputa pelo comando de um enorme e tradicional conglomerado de mídia tem lugar no pódio das melhores produções dest década.

É verdade que os últimos três anos trouxeram grandes títulos, mas nada atualmente em exibição conseguiu ainda se manter com a mesma eletricidade e número crescente de adeptos por três temporadas (e quatro anos) do que o inferno luxuoso dos Roy.

A ótima "O Conto da Aia" teve altos e baixos. A simpática "The White Lotus", que também busca o regozijo do espectador com ricos se dando mal, tem temporadas independentes. A cultuada "Better Call Saul" enrosca no meio. E outras tramas novelescas tendem a repetir situações e se tornarem previsíveis.

Isso não acontece com "Succession", assinada pelo roteirista britânico Jesse Armstrong, ainda que parricídio e fratricídio reais e metafóricos estejam no motor da ficção desde sempre. As tragédias gregas não existiriam sem esse tipo de premissa, e mesmo a Bíblia explora o tema com gosto.

Dramaturgos, de Shakespeare a Nelson Rodrigues, bem souberam que nada intriga tanto o público como uma pessoa capaz de se voltar com selvageria contra aqueles do seu próprio sangue, e Armstrong bebe sem moderação nessas fontes para criar seus Cains e Cronus modernos.

Mas ele sobressai na façanha em relação a seus pares porque consegue alinhavar todo esse repertório consagrado com elementos muito caros ao nosso tempo.

O teatro de guerra familiar, por exemplo, é uma empresa gigantesca com um negócio que, como o noticiário mostra, precisa se reinventar rapidamente para sobreviver, o que casa perfeitamente com o dilema da própria família, ainda dependente das ideias de um patriarca que vai e volta da senilidade ao longo dos episódios.

O individualismo exacerbado, que permite a cada personagem fazer de suas crenças pessoais verdades absolutas é outro tema cortante, temperado com vaidade, relacionamentos fugazes ou fluídos, interessantes permanentemente mutantes para fazer jus à velocidade do hoje.

Esses elementos são perfeitamente embalados por edição e diálogos que acompanham o ritmo acelerado, e um cálculo bem feito para que nunca fique claro quem é herói e quem é vilão —ou que todos os personagens sejam ambos ao mesmo tempo.

Essa fuga do maniqueísmo mantém o interesse do espectador em potência máxima independentemente de quem esteja em cena e conserva a possibilidade de surpresa o tempo todo, inclusive com o antiquíssimo e saboroso da vitória, ou ao menos do revide, do mais fraco/mais sonso sobre seus algozes, como o trailer enseja. Serão dois meses difíceis de esperar.



As três primeiras temporadas de "Sucession" estão disponíveis na HBO

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