Sim, dinheiro traz felicidade. Se você discorda, vou convencê-lo sobre minha opinião. Iniciarei a defesa de meu juízo respondendo à questão do título, só que invertida: “a miséria traz infelicidade?”
A intensa privação é incompatível com o bem-estar, pois aprisiona o miserável em uma árdua e incerta luta pela subsistência. Posses diminuem a vulnerabilidade às intempéries empurradas pelo mundo, não as deter expõe fraquezas. O dinheiro reduz aflições dos carentes e garantirá chances para que o paupérrimo se desenvolva. Consegui convencer?
Se ainda não, tenha o trabalho de pesquisadores em saúde pública de Boston lançado neste ano. O título do trabalho desafia: “A riqueza é associada a sintomas depressivos nos Estados Unidos?”. A resposta, após análise epidemiológica, é que a prosperidade financeira protege contra a depressão. Convenci que dinheiro traz felicidade?
Você pode se manter desconfiado e retrucar que meus argumentos até agora indicam que a pobreza traz a infelicidade. Pois ainda não leu de mim sobre o papel do dinheiro em trazer felicidade para quem já o tem. Boa assertiva, mas trarei argumentos favoráveis a minha tese para o debate.
Renda e valor de patrimônio de indivíduos de uma determinada população são indicadores que podem ser coletados e correlacionados com a percepção de bem-estar. Temos então um roteiro básico para pesquisas populacionais, que já foi melhor elaborado e aplicado. De tal forma que a partir da década de 80, cientistas trouxeram respostas que irão enriquecer, sem trocadilhos, discussões aqui iniciadas.
Uma destas respostas destaca que rendas maiores conferem independência e oportunidades para selecionar o curso da vida. A percepção de que se detém controle sobre escolhas somada a possibilidade de exercer o poder é muito satisfatória.
Porém devemos saber que a associação entre riqueza e maior satisfação de vida, é mais consistente em nações pobres do que em ricas. Além disso, aumentos uniformes de renda de moradores de regiões específicas incrementam pouco a satisfação de vida de cada habitante. Isso indica que a causa da satisfação não é necessariamente possuir bens e gastar dinheiro, mas ter vantagens em comparação a pessoas socialmente consideradas relevantes.
Ascender em classe social alavanca menos a sensação de bem-estar do que ter aumento de ganhos monetários. Provavelmente porque quem ascende perderá tais vantagens comparativas tão logo se habitue ao grupo ao qual acaba de ingressar. Os pesquisadores insistem: ter recursos financeiros adequados não garante percepção de que estão adequados.
Outra constatação: aumentos na renda trazem alegria, mas ela só perdurará se os aumentos periódicos se sucederem. Ou seja, a felicidade se solidifica quando as expectativas de se ganhar mais são constantemente atendidas. Entretanto, o materialismo embutido em valores monetários pode reduzir a satisfação com a vida, minimizando os efeitos positivos de se ter mais recursos financeiros.
Mas o que os cientistas dizem quando deixam de olhar para populações e se debruçam em análises sobre os pormenores do funcionamento cerebral?
Existem áreas cerebrais que quando ativadas nos dão a sensação de prazer. Essas áreas locadas em lugares mais profundos do cérebro trabalham em nosso inconsciente. Receber dinheiro liga essas partes encefálicas que automaticamente passam a influenciar outras localizadas na superfície cerebral. Essas últimas são as regiões que expressam nossa consciência e dirigem nosso comportamento em busca da recompensa mediadas pelas áreas profundas intracranianas.
Em outros termos, o dinheiro nos condiciona a procurar dinheiro.
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