Recorde-se de uma situação complicada de sua vida, época crítica de escolhas difíceis. Cada decisão posta em prática levará à sequência de eventos cujas consequências dificilmente serão contidas. As opções contempladas, porém preteridas, não mais poderão ser reconsideradas. Pois o passar do tempo define diferentes demandas.
O impacto de uma ação se perde tão logo sua proposta seja arquivada. Qualquer rumo seguido não evitará amarguras, o melhor caminho é na verdade o menos pior. Em seus pensamentos conflitam uma vasta quantia de soluções vagas e inexequíveis perante a escassez de opções praticáveis. Assim que as informações são atualizadas e as tensões ganham dimensões físicas você é atraído por uma outra causa. A sua própria, a que prioriza seus anseios pessoais.
Agora há um ponto de inflexão: se manter envolvido com o que está ao seu redor ou simplesmente ignorar e se curvar à tentação da satisfação pessoal. Decidir é difícil. Existiria uma específica área cerebral que, se enfraquecida, aumentaria a frequência de más escolhas?
Durante tomadas de decisões existe uma parte do cérebro que trabalha em especial. Seu nome é córtex cingulado anterior, uma central de neurônios que integra e encaminha várias informações, para que possamos avaliar qualidades distintas.
Dessa forma, opera para estimarmos a utilidade dos recursos que estão no entorno e distantes. Vale a pena tomar o que está por perto ou desprezar e continuar a procurar melhores saídas?
Essa parte cerebral também atua quando aferimos as recompensas obtidas em experiências passadas. Inclusive se obtivemos sucessos ou fracassos após específicas decisões. E não terminou ainda. O córtex cingulado anterior está ativo quando temos que nos adaptar às mudanças de circunstâncias. Por último, a atividade deste grupo de neurônios reflete o peso das decisões, quando se considera as futuras recompensas, mas também os custos envolvidos para conquistá-las.
Apresentei a vocês um pedaço do cérebro que tem como especialidade nos fazer estimar sobre os benefícios e os ônus que virão se persistirmos ou mudarmos nossas atitudes. E em monitorar se são compatíveis nossos planos aos nossos resultados. Como síntese, o córtex cingulado anterior reflete as dificuldades da escolha.
Não seria tentador imaginar a invenção de uma pílula que expandiria a eficiência dessa pequena parte do nosso organismo? Dessa maneira, teríamos um incremento da acurácia de nossas avaliações. Seria o milagre da inaugurada neurologia cosmética, que tornaria nossas atitudes mais eficazes. Teríamos a solução farmacológica contra aquele que não mede as consequências de suas atitudes.
Entretanto, o comprimido que aumentaria nossa performance estaria embrulhado em questões éticas, em alguma proporção às relativas ao uso de anabolizantes. E, infelizmente, aumentar o poder cerebral para analisar e simular efeitos de escolhas, não seria a certificação da conquista dos sonhos utópicos. Pois as dúvidas aventadas que precedem a decisão, não são frutos exclusivos de um esforço racional. As emoções, recordações e as mesquinharias humanas também fomentam tal atividade mental.
De fato, até já sabemos quais são as duras consequências da função exagerada do córtex cingulado anterior: pensamentos incontroláveis e ansiedade demasiada. E a excessiva geração de comportamentos em busca de objetivos. Nestes casos, as ações, até as mais triviais, servem a propósitos absurdos. Como, por exemplo, endireitar milimetricamente uma pilha de livros para evitar a destruição da biblioteca. Esses são alguns dos sintomas clínicos do transtorno obsessivo compulsivo, que também é consequência de outras disfunções neurais.
Portanto, estamos longe do fim da filosofia e da psicanálise, e decidir continuará um exercício difícil para nós mortais.
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