Terra Vegana

Luisa Mafei é culinarista e professora de cozinha a base de vegetais

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Você não precisa ser ou querer se tornar vegano para ler esta coluna

Lista do que podemos incluir numa alimentação baseada só em vegetais é infinitamente maior do que alface

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Você não precisa ser ou querer ser vegano para ler esta coluna que estreia agora na Folha, Terra Vegana.

Passou o susto?

Então vamos lá, podemos nos apresentar. Meu nome é Luisa Mafei, tenho 33 anos, sou cozinheira, vegana e, pasmem, não mordo!

Nem carne, nem frango, nem porco.

Nem peixe, nem frutos do mar.

Nem leite, nem manteiga, nem ovos, nem queijo.

E nem mel.

Não sei você, mas já olhei para essa lista de negativas como um decreto de morte (a minha inclusive), sobretudo social.

O fim do delírio das minhas papilas gustativas com o bacon.

Nunca mais ir a um churrasco e molhar a picanha na farofa.

Comer apenas nozes e uva passa no Natal.

Sushi de pepino no rodízio japonês.

Pão na chapa e média, Luisa?

Não, obrigada, me vê um chá. E um pedaço de melão, por favor.

Há três anos, o veganismo me parecia algo não apenas impossível nesse mundo de tentações, mas também um movimento extremista e radical.

Coisa de gente doida defender a vida dos animais mais do que a vida dos humanos, e ainda ficar postando fotos de pintinhos sendo triturados vivos.

Esse povo só come alface. Deve ser tudo anêmico, isso sim.

Sem falar que eles sofrem, né? Imagina o que deve ser se privar de comer tudo. Eu, hein. Deixa o meu franguinho em paz que ele é orgânico e foi criado livremente.

Em três anos, muita coisa mudou, e não foi apenas eu e quem mais virou vegano que passou a olhar o veganismo com outros olhos. Talvez você que come carne não tenha tomado susto nenhum ao ler o nome desta nova coluna e ainda tenha pensado: já estava na hora do veganismo ter um espaço aqui no jornal.

As imagens da Amazônia e do cerrado em chamas nos últimos anos —para não falar de outros biomas que também arderam— fez com que jovens, adultos e principalmente pais de adolescentes me pedissem que eu os ensinasse a cozinhar.

“Minha filha chegou em casa dizendo que não vai comer mais nada de origem animal, faz uma semana que ela come arroz com salada, não sei o que fazer, o que é que ela quer?”

Viver neste planeta, me parece. E tudo indica que comer carne (não só de boi, mas de frango, porco e peixe) do jeito que comemos torna esse desejo inviável. Ela provavelmente quer uma floresta de pé, como todos nós, e não solapada para o cultivo de soja destinada à ração (70% dos 30 milhões de hectares cultivados estão concentrados no cerrado e na Amazônia).

Se antes alguém duvidava da jovem ativista sueca Greta Thunberg de que não há planeta B, agora que Bill Gates afirmou que o futuro será mesmo nesta Terra e que nossa alimentação será baseada em plantas —deixemos a parte em que ele fala sobre carnes sintéticas para outra coluna—, o veganismo ganhou os contornos de um horizonte para um mundo mais sustentável, mesmo para quem não é vegano.

Um horizonte que, para muitos, pode ser uma utopia. Mas como disse Fernando Birri, cineasta argentino: a utopia serve para a gente caminhar.

E é na cozinha de casa, numa alimentação que nos aproxima da terra, das cascas e da comida de verdade que podemos dar o primeiro passo. Não é só alface. Cereais, leguminosas, castanhas, sementes, frutas, verduras, legumes, raizes, tubérculos, a lista de tudo aquilo que podemos incluir numa alimentação baseada apenas em vegetais é infinitamente maior do que a das negativas que tracei no início desta coluna. O protagonismo do prato pode ser dos vegetais, e até o humilde repolho pode virar rei.

Se é um desejo do leitor incluir mais refeições 100% vegetais no cotidiano, precisamos aprender a cozinhar. Essa função não pode ser delegada apenas aos restaurantes e à indústria alimentícia. A maioria de nós infelizmente não cresceu comendo vegetais, muito menos aprendeu a prepará-los de um jeito que fique gostoso de verdade.

É por isso que aqui na coluna Terra Vegana teremos sempre um mimo para o seu estômago: uma receita para você preparar um prato 100% vegetal, ou para aprender a substituir um ingrediente de origem animal. Então prepare-se para cozinhar e nem precisa dizer aí em casa que é comida vegana se algúem for torcer nariz: quando a comida é boa, não precisa de legenda.

Essa semana, deixo você com uma receita de bolinho de chocolate com ganache de laranja, para comemorar os cem anos da Folha. Vida longa!

Bolinho de chocolate com ganache de laranja

Rende oito bolinhos

Ingredientes

  • ¾ xícara de farinha de trigo
  • ⅓ xícara de cacau em pó
  • ¼ de xícara de chocolate 70% sem leite, picadinho
  • ⅓ de xícara de açúcar mascavo
  • 1 xícara de água
  • 3 colheres de sopa de óleo de coco (em estado líquido)
  • ½ colher de chá de bicarbonato de sódio
  • 2 colheres de chá de fermento
  • 1 colher de chá de vinagre de maçã
  • Pitada de sal

Para a ganache

  • ½ xícara de chocolate 70% sem leite, picadinho
  • ¼ de xícara de suco de laranja natural
  • Raspas de 1 laranja
  • 1 colher de chá de óleo de coco

Passo a passo

  1. Pré-aqueça o forno a 180ºC
  2. Peneire a farinha, o cacau, o açúcar, o fermento e o bicarbonato em uma tigela grande e misture
  3. Ferva a água e, em seguida, acrescente na tigela dos secos, aos poucos, misturando com uma colher pão duro até incorporar completamente
  4. Acrescente o óleo de coco, o chocolate picadinho, uma pitada de sal e misture.
  5. Por fim, acrescente o vinagre, envolva e transfira para forminhas de silicone de cupcake
  6. Leve para assar por 25 a 30 minutos (faça o famoso teste do palito para conferir se está assado)
  7. Prepare a ganache: leve o chocolate para derreter em banho maria. Após derreter, desligue o fogo e acrescente o suco e as raspas de laranja, misturando bem. Acrescente por fim o óleo de coco, misture e reserve
  8. Espere esfriar, tire das forminhas e corte ao meio com uma faca de pão. Recheie e cubra com a ganache de laranja

Dicas

  • Quer diferenciar o recheio da cobertura? Separe metade da ganache e misture com uma colher de chá de tahine (pasta de gergelim) ou de pasta de amendoim
  • Esses bolinhos podem ser congelados por dois meses

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