Luís Francisco Carvalho Filho

Advogado criminal, é autor de "Newton" e "Nada mais foi dito nem perguntado"

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Luís Francisco Carvalho Filho

Todos os homens do presidente

Jair Bolsonaro empurra o Brasil para o abismo

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A expressão “advogado de porta de cadeia” designa o profissional que oferece serviços ao preso que, por falta de opção, o contrata. Dois sentidos pejorativos a ela se vinculam: desvio ético (muitas vezes a indicação parte do agente policial) e incompetência (teses defensivas despidas de lógica).

A estratégia adotada por Jair Bolsonaro no inquérito que apura a transformação da Polícia Federal em instituição amiga, para proteção de interesses familiares e políticos, não parece obra de
“advogado de porta de cadeia”?

É um atentado retórico, quase ofensivo, à inteligência dos observadores. A tese não leva em consideração a palavra do próprio presidente da República e os acontecimentos que a imprensa registra há meses sobre o embate com Sergio Moro pelo comando da PF.

A Polícia Federal —apesar de seus defeitos— exerce função de Estado. Não existe, em tese, para paparicar poderosos.

O caso é grave e quanto mais tempo demorar a investigação, maior a chance de Bolsonaro ser vitorioso no plano processual. O presidente da República, mesmo lunático e criminoso, sabe que pode contar com a boa vontade dos outros Poderes, inclusive para replicar a tese defensiva hoje considerada ridícula.

No plano político, o affair fica inquietante.

O governo é caótico. O vídeo da reunião ministerial serve para mostrar o naipe do pessoal que está no poder. O ministro da Economia engana: a moeda brasileira é a que mais se desvaloriza.
O chanceler, cretino absoluto, aposta no isolamento diplomático do país.

Por endossarem, como testemunhas (compromissadas com a verdade), a tola explicação de Jair Bolsonaro para os dizeres da reunião ministerial, desmoralizam-se os três ministros militares, instalados no Palácio do Planalto como fiadores de propósitos supostamente democráticos.

Para a tutela de interesses personalíssimos do presidente, três generais se convertem em personagens inconfiáveis e caricatos, corrompendo-se outro pilar de sustentação.

O isolamento de Bolsonaro cresce depois da queda de Moro e dos ministros da Saúde, mas para o seu afastamento da Presidência é necessária a corrosão aguda e irreversível da governabilidade.

Enquanto o risco de impeachment é contornável pelo conchavo parlamentar, o seu pesadelo é não se reeleger.

É o que move outros homens do presidente —a começar pelo filho Carlos, que não merece ser tratado como “garoto”, mas como conspirador pernicioso, versão repaginada de PC Farias (o fantasma do governo Collor), capaz de usurpar poderes em diversos cantos da administração federal, ainda que seu gabinete de trabalho se situe em lugar incerto e não sabido da realidade virtual.

Armas e munição são desviadas de quartéis. O governo afrouxa os controles. Para a formação de suas milícias, o bolsonarismo recruta o que há de pior entre militares da reserva, agentes de segurança e madames. O historiador Daniel Aarão Reis alerta para o “dispositivo” que não aceitaria pacificamente a alternância de poder em 2022.

Arrogante, Bolsonaro se declara porta-voz do povo, incentiva forças golpistas, ataca governadores, aniquila setores culturais, mina a credibilidade do Legislativo e do Judiciário, zomba das oposições (inoperantes, desunidas, atordoadas), amplia a ameaça do coronavírus e empurra o Brasil para o abismo.

Os 300 ativistas contra a democracia acampados em Brasília estão armados. A “inteligência” de Bolsonaro sabe disso.

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