Depois das eleições presidenciais de 2018 o Brasil se converteu em um “eldorado” para a indústria de armamentos.
Além de aspectos ideológicos bestas (como imaginar que a liberação de armas reduz índices de criminalidade), o engajamento da família Bolsonaro neste bilionário negócio merece ser fiscalizado por procuradores da República.
O país tem notórios problemas fiscais e o governo zera a alíquota do imposto de importação de armas de fogo. A medida da Câmara de Comércio Exterior do Ministério da Economia (que desmoraliza ainda mais a figura burlesca de Paulo Guedes) foi comemorada quarta-feira (9) pelo Presidente da República no Twitter.
Na mesma semana, o deputado Eduardo Bolsonaro apresenta projeto de lei (PL nº 5417/2020) que autoriza a publicidade de armas de fogo nos meios de comunicação, em redes sociais e em aplicativos de mensagem. O parlamentar evoca na justificativa os ensinamentos do pai, Jair Bolsonaro, e de Jesus.
O Decreto nº 9.845/2019 mudou a escala de crescimento. Permite a compra de até quatro armas por pessoa —e o texto deixa brecha para que o número seja ainda maior. O interessado deve assinar uma declaração de “efetiva necessidade” que se presume verdadeira.
Quanto mais armas são desviadas para o mundo do crime mais armas legais são em tese necessárias. Os arsenais das polícias são modernizados. Estima-se que cerca de 6 milhões de pessoas estariam dispostas a adquirir armas de fogo nos próximos anos. O país tem mais de 1 milhão de vigilantes (520 mil com vínculos ativos), informa o Anuário 2020 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Eduardo Bolsonaro não se limita a aparecer armado em flagrantes fotográficos da família ou desejando a disseminação de mercadorias estrangeiras, como garoto propaganda. O parlamentar se comporta como lobista, apoiando multinacionais que, paulatinamente, se instalam em terras brasileiras.
O site da Imbel (empresa pública vinculada ao Exército) registra que as tratativas para a parceria tecnológica, comercial e industrial com a empresa alemã Sig Sauer estão “bastante avançadas”. A Springfield Armory, gigante dos EUA, investe no Rio Grande do Sul, que já é sede da Taurus.
Reportagem de Rubens Valente no UOL, sobre vídeo postado em novembro, mostra que Eduardo Bolsonaro vê com naturalidade o servidor público ser também negociante: “Fala pessoal, tamo aqui nos Estados Unidos, em Miami, a gente está visitando aqui uma loja, uma exportadora, importadora de armas, que é de um brasileiro, né, policial civil, confere, Caíque?”.
O interlocutor esclarece que a empresa é exportadora: “a gente manda essas armas para o Brasil, muitos dos rifles na plataforma AR-15 e AR-10, semiautomático”.
Caíque, campeão de tiro, é investigador da Polícia Civil de São Paulo e presidente da Tactical Solutions Inc., pertencente à esposa. O envolvimento de agente policial com interesses privados é sempre impróprio.
Como a família Bolsonaro tem se notabilizado por diversificados tipos de deslize moral, é legítimo perguntar, em primeiro lugar, se membros do clã receberam armas de presente. O país tem o direito de saber, afinal, quantas pistolas e quantos rifles possuem Jair Bolsonaro e seus filhos Flávio, Carlos, Eduardo e Renan.
Depois da derrocada das empreiteiras, a prosperidade do setor empresarial da segurança pública e privada é capaz de inspirar relações pervertidas com políticos e governantes.
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