Luís Francisco Carvalho Filho

Advogado criminal, é autor de "Newton" e "Nada mais foi dito nem perguntado"

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Descrição de chapéu Folhajus

Jair Bolsonaro quer enterrar a Nova República

Lira e Pacheco são sócios na operação de salvamento do presidente

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O funcionário da Presidência da República que se apropria de um talher de prata do Palácio do Alvorada tem pena de 2 a 12 anos de reclusão.

O presidente da República que se apropria das Forças Armadas não comete delito comum. Quando menciona o “meu” Exército, como um sapato ou um soldadinho de chumbo, Jair Bolsonaro é apenas o fanfarrão golpista.

Esse peculato político —outro exemplo seria o de nomear como “seu” algum ministro do Supremo Tribunal Federal— pode ser visto como crime de responsabilidade. O presidente é comandante das Forças Armadas: não é seu dono.

Mas o processo por crime de responsabilidade depende da temperatura das ruas, do pessimismo econômico, do engajamento do presidente da Câmara dos Deputados e de um governante incapaz de governar.

Dezenas de pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro repousam em gavetas de Arthur Lira. No Senado, Rodrigo Pacheco impede a instalação da CPI da Covid.

Lira e Pacheco são sócios na operação de salvamento de Bolsonaro. Por isso, o empenho em remover peças ministeriais inconvenientes.

O novo ministro da Saúde declara ter “compromissos” com a ciência, mas enaltece a continuidade da gestão criminosa de Eduardo Pazuello. Fala em nome do presidente, ainda que, de canto, o presidente o desminta.

Marcelo Queiroga faz o papel do animador otimista, que manda olhar para a frente e esquecer o passado. “Não é hora de fazer calor”, explica o médico bolsonarista, como se fosse possível deixar para lá o que aconteceu, o número de mortos, o colapso hospitalar, a falta de vacina, o desrespeito à ciência.

A cena dos três emissários luzentes do negacionista (Lira, Pacheco e Queiroga), depois de reuniões secretas e estúpidas, falando em união e convergência, mas sem estender a mão a governadores do Brasil, faz parte do planejamento publicitário da campanha de 22, uma espécie de “prova” de que o presidente, além de instruir os brasileiros a adotar as cautelas sanitárias, trouxe a vacina.

Lira é rude e ligou o sinal amarelo. Para que não existam dúvidas sobre poder e prestígio, nomeia ministra de Estado a esposa de um modelo de político corrupto, que passa a repartir os corredores do palácio presidencial com os filhos cretinos de Bolsonaro, assessores supremacistas, militares e pastores de reputação duvidosa, tiras e diplomatas obscuros. Ao escolher Flávia Arruda, Arthur Lira retribui a nomeação incômoda da golpista Bia Kicis para a (estratégica) presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.

Há quem veja Pacheco como um simpático e mineiro boneco de Olinda, todo malemolente, não se sabe se indo ou voltando. Rodrigo Pacheco é o oposto de Tancredo Neves. Tancredo trabalhou sempre pela democracia. Oportunista e dissimulado, Pacheco conspira (com ponderação e sem radicalismo) contra a democracia.

A hora é de fazer calor. Investigar a tragédia sanitária provocada pelo presidente.

Pacheco e Lira fazem parte do comitê de reconstrução do discurso eleitoral de Bolsonaro, que, entre outras façanhas, já reduziu o orçamento da Saúde e da Educação e deixou o IBGE sem recursos para o Censo —essencial para o planejamento do futuro.

Bolsonaro pretende enterrar a Nova República. A faixa etária da contaminação diminui paulatinamente. Os que acreditam que a união em torno do presidente crápula é útil ou necessária também são, como os milicianos, seus correligionários.

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