Ninguém o conhece, mas ele representa (até 2027) o estado de São Paulo no Senado. Giordano (PSL) era suplente de Major Olimpio.
Ciro Nogueira (PP) assume a Casa Civil e deixa a vaga de senador pelo Piauí para a mãe, sua suplente, Eliane Nogueira (PP).
De norte a sul, homens públicos afastados ou falecidos deixam riquezas patrimoniais e eleitorais para familiares.
A trajetória de Major Olimpio é diversa. Veio da Polícia Militar para a bancada da bala em Brasília, empenhada em promover retrocessos humanitários, favorecer a indústria de armas e empresas de segurança.
Venceu a eleição para o Senado, beneficiado pela onda Bolsonaro, mas rompe com o presidente, morre na pandemia e deixa o cargo para um obscuro empresário, que circula em ambientes incertos e não sabidos, inclusive no Paraguai.
É curioso ver como estereótipos do homem da lei e da pessoa malvista podem compor uma chapa.
Ciro Nogueira coleciona inquéritos no STF e deixa o cargo para a mãe inexperiente, que sabe, no entanto, guardar dinheiro em casa. Ninguém se constrange. Em 2017, saudava Lula como o “maior presidente da história” e xingava Bolsonaro de “fascista”.
A figura miúda do suplente não precisaria existir. Parlamentar sem voto não faz sentido. Em um sistema político reformado, a sucessão do senador impossibilitado de exercer o mandato poderia se dar pela convocação de nova eleição, ou pelo chamamento do segundo colocado na disputa majoritária ou pelo deputado federal mais votado no estado que representa.
A natureza pública do cargo eletivo é incompatível com interesses privados. É essencialmente inconstitucional a indicação de mulher, filho, pai, mãe, tia, sobrinho, cunhado ou sócio para suplente do candidato a senador.
Agentes de segurança são como juízes e promotores. Não têm vida partidária legítima. Lidam profissionalmente com vigilância e punição: quanto mais distante de partidos e governos, melhor, menos abusos de poder. Devem ser inelegíveis e impedidos de ocupar cargos na administração. E depois de se desligarem (definitivamente) da carreira que integram, merecem um longo período de quarentena.
O país precisa se proteger de iniciativas sombrias de igrejas (não tributadas) e corporações policiais (violentas e corruptas).
Giordano, Olimpio e os Nogueira são apenas personagens passageiros do descompasso político brasileiro.
Bolsonaro patrocina o que acontece de pior na política, mas se elegeu com o discurso da pureza absoluta.
O desprezo pela cultura e pela democracia, o orçamento secreto, o aparelhamento das instituições e as insanidades administrativas e sanitárias desmentem promessas de reforma.
Os acertos com o centrão e o toma lá dá cá explícito fazem ruir qualquer expectativa de mudança. Mas, ao potencializar as mazelas do Legislativo (que, às vezes, atrapalha suas ambições, assim como o Judiciário), ora hostilizando, ora confraternizando, Bolsonaro faz ferver o caldeirão golpista: encontra culpados para a própria incompetência, insufla sentimentos de ódio contra adversários e promete recolocar nos trilhos as instituições que prejudicam a vontade do povo, os valores cristãos e a economia de mercado.
Há governantes com espírito público nos campos da direita e da esquerda. Jair Bolsonaro governa com espírito de porco.
Agora abre as portas do palácio para vendedores de fumaça e operadores suspeitos das mais variadas espécies. Os fins justificam os meios.
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