Luís Francisco Carvalho Filho

Advogado criminal, é autor de "Newton" e "Nada mais foi dito nem perguntado"

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Descrição de chapéu Folhajus Rio de Janeiro

Sim, é chacina

Os policiais que matam voltam para a rua para matar mais

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São pelo menos cinco massacres no Rio de Janeiro.

Quinze mortos em oito de fevereiro de 2019, no morro do Fallet-Fogueteiro, Santa Teresa. Dez, em 15 de maio de 2020, no Complexo do Alemão. Nove, em três de fevereiro de 2021, em Quintino. Vinte e oito, em seis de maio de 2021, na favela do Jacarezinho, o mais numeroso da triste história carioca.

Agora, em 22 de novembro, aparecem nove mortos em área de mangue no Complexo do Salgueiro, depois do assassinato de um policial.

Moradores deixam flores no local onde corpos foram achados em São Gonçalo, no Rio de Janeiro - Tércio Teixeira - 23.nov.2021/Folhapress

Levantamento da Folha indica mais três ocorrências coletivas e patrocinadas pela Polícia Militar em 2019.

O ex-governador Wilson Witzel festeja o disparo fatal do atirador de elite contra um sequestrador, na Ponte Rio-Niterói, depois de João Doria, governador de São Paulo, cumprimentar policiais que "agiram e colocaram no cemitério mais dez [na verdade, 11] bandidos" em Guararema, dia 4 de abril, em repressão a tentativa de assalto a bancos.

Em Manaus, 30 de outubro, 17 traficantes tombam depois de tiroteio. Nenhum disparo inimigo atinge policiais ou viaturas.

Na dispersão de baile funk na maior favela paulistana, Paraisópolis, em dezembro, nove jovens morrem pisoteados.

É uma amostra singela do que acontece no Brasil depois da posse de Jair Bolsonaro.

Menos esporádicas, estas mortes em pencas (pouco mais de cem) impressionam, como pequenas tragédias, mas é número irrisório diante de 12.767 mortes em decorrência de intervenções policiais em 2019 e 2020 –média de 17 por dia em todo o país. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2021), a Bahia tem a quarta maior taxa de mortalidade, depois de Amapá, Goiás e Sergipe.

Entre 2013 e 2018, o número de mortes em confronto cresce 179,2%. Entre 2018 e 2020, a letalidade policial sobe 3,9%. Por que então implicar com Jair Bolsonaro? Que culpa ele tem se a tendência de alta acentuada é anterior ao seu mandato?

O atual presidente da República, como nenhum outro, faz apologia da matança impune de suspeitos em operações policiais. Doria, Witzel são aprendizes. Bolsonaro quer que excessos policiais, balas perdidas inclusive, sejam tolerados e compreendidos pela opinião pública, pelas forças políticas e pelo Poder Judiciário.

Thiago Amparo tem razão quando chancela o acontecimento: o nome é chacina.

Não há protocolos de atuação. O local não é preservado. Providências para a investigação do episódio são tardias. Corpos ficam abandonados desde a tarde de domingo e recuperados do mangue do Salgueiro, por moradores, na segunda-feira.

Para o porta-voz da PM, a operação é "necessária" e cumpre o objetivo de cessar fogo. Quarenta e dois tiros certeiros. O governador sinistro do Rio de Janeiro, dublê político de Zé do Caixão, apoia seus homens e não liga para matança.

Os policiais fazem churrasco e mala de dinheiro e armas não são apreendidas formalmente, e desaparecem, dizem por aí. O armamento da corporação não é imediatamente submetido à perícia.

O ataque tem cheiro de vingança –leitmotiv de tantas operações policiais. Como informa outra reportagem da Folha, a morte de um policial em serviço aumenta em 350% as chances de um civil ser morto no dia seguinte.

A verdade do processo nem sempre é a verdade real. Nada será apurado. Em poucas semanas a chacina de agora estará esquecida. Pelo menos até o próximo massacre. Policiais suspeitos permanecem na ativa. Os que matam voltam para as ruas para matar de novo.

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