Luís Francisco Carvalho Filho

Advogado criminal, é autor de "Newton" e "Nada mais foi dito nem perguntado"

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Luís Francisco Carvalho Filho
Descrição de chapéu Folhajus yanomami

Genocídio yanomami é monstruosidade criminal e política de Bolsonaro

Há, sim, culpados diretos pela desnutrição e pelas mortes do povo yanomami

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Terra do Carnaval, o Brasil também é terra do genocídio.

Há, sim, culpados diretos pela desnutrição e pelas mortes do povo yanomami. É caso criminal, não é só crise humanitária.

Jair Bolsonaro está na galeria global dos grandes criminosos políticos de seu tempo. Genocida e vulgar, além de golpista, seu projeto era pôr fim à "brincadeira", ou seja, "desengessar" a Amazônia da política indigenista, da politica ambiental e dos direitos humanos.

Sua tropa de extermínio, formada por garimpeiros clandestinos, teve acesso ao mercado formal de armas e à aviação civil, recebeu mensagens de incentivo, por discursos e decretos, aproveitando o desmanche dos órgãos de fiscalização, a preguiça funcional e a própria pandemia para operar com extraordinária desenvoltura.

Contou com cumplicidade e omissão premeditada de ministros, governadores, prefeitos, empresários e oficiais militares, brucutus do pensamento obsoleto da questão amazônica.

Indígenas incomodam e o Brasil é estruturalmente genocida –ainda que (desde a Constituição de 88) tenha promovido políticas extremamente positivas de demarcação de terras e de salvaguardas cultural e sanitária.

Ao comentar o Código Penal de 1940, o jurista Nelson Hungria explicava que o texto legal não fazia alusão a "silvícolas" para evitar que se pudesse supor, "no estrangeiro", que o país era "infestado de gentios".

Em 1979, na Ilustrada, Carlos Drummond de Andrade mencionou as ameaças decorrentes das doenças, do garimpo e do poder econômico, defendendo a proteção institucional da vida pacífica dos ainda "desconhecidos" yanomamis.

Em 2015, o Ministério Público Federal acusa o "projeto de desenvolvimento" do Brasil de promover "destruição da organização social, costumes, línguas e tradições de povos indígenas". A implantação da usina hidrelétrica de Belo Monte, legado perverso de Lula e Dilma, é tecnicamente uma "ação etnocida". Em 2022, Lula diz que faria Belo Monte de novo.

Em julho de 2020, foi ajuizada no STF medida cautelar para a tutela dos povos indígenas diante da Covid-19. No rol de pedidos figurava a "retirada dos invasores".

É constrangedor descobrir agora, juntamente com as desconcertantes imagens de corpos cadavéricos de crianças e velhos, que desde novembro de 2021 manteve-se inerte a decisão de fiscalização da assistência do governo federal aos yanomamis, aprovada pelo plenário do Tribunal de Contas da União diante da "profunda preocupação com o aumento da vulnerabilidade socioambiental dos povos indígenas".

As cenas recentes da barbárie brasileira surgem, paradoxalmente, quando organizações não governamentais celebram com compreensível euforia a criação do Ministério dos Povos Indígenas, a nomeação da ministra Sônia Guajajara e os renovados compromissos políticos de Lula.

A ministra Sônia Guajajara protesta na Câmara dos Deputados - Pedro Ladeira - 1°.fev.23/Folhapress

A condenação criminal de Jair Bolsonaro e seus comparsas será transmitida em redes de televisão aqui e no "estrangeiro", em nome da civilidade, ou tudo cairá no esquecimento (pelo menos até que nova crise humanitária se instale), para o bem da pacificação ideológica, com a retomada da destruição silenciosa, lenta e gradual dos yanomamis e de outros povos ameaçados?

Porque somos todos genocidas. O Carnaval está chegando e foliões cantarão alegremente pelas ruas das cidades que "índio quer apito" ou desfilarão simplesmente fazendo de conta que "índio é dono desse chão" e que "índio é filho da Portela".

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.