Luiz Horta

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Luiz Horta

A nostalgia das empanadas argentinas

No horário em que SP liga para o delivery de pizza, portenhos estão acionando o entregador desse quitute

O dilema da pizza de domingo me levou para a gostosa melancolia das noites de Buenos Aires. Todo mundo pensa que o prato argentino é o churrasco. Mas só duas coisas unem as torcidas de River e Boca: milanesa e empanada. 

Naquele horário em que São Paulo liga para o delivery de pizza, portenhos estão acionando o entregador de empanadas.

Nos 156 domingos em que morei na cidade pedi uma dúzia delas todo início de noite dominical.

A ideia de empanadas voltou a me perseguir, e fui pedindo as que encontrei. Acabei me fixando num lugar chamado Juanito’s, as que mais me pareceram com as dos meus anos argentinos, com carne, carne picante, queijo e cebola e verdura.

As da La Guapa são maravilhosas, mas refinadas, para outro momento.

O Juanito’s faz um alfajor à antiga, que é um biscoitão de maisena recheado com doce de leite.

Mais uma saudade, esses alfajores caseiros são os dos bairros com nomes lindos, de tango, Balvanera, Boedo e minha cidade do coração, Banfield, onde nasceu Cortázar

Como os industrializados com prazer, sou um gourmand (em francês é mais chique ser guloso), mas esses simplões, enrolados em papel-manteiga, sem marca, são especiais.

Já que estou no clima de “vuelvo al sur”, aceito uma barra de Mantecol, uns sanduíches de miga e um Quatro Pomelo, meu refrigerante favorito, amargo e de grapefruit.

Nesse apetite estava quando lembrei do Hugo. Hugo Ibarzábal, que morreu no ano passado, foi um pioneiro. Fundou o Martín Fierro, fazia as melhores empanadas e talvez seja quem as tenha colocado no gosto do paulistano.

E dele aprendi muito, com seu guia “Buenos Aires Passo a Passo”. Quanto me ensinou!

Juanito’s Empanadas
Onde: Al. Lorena, 572,  Jardins, tel. 2679-2332. Quando: de seg. a sex., das 11h30 às 23h; sáb., das 12h às 23h; dom. (delivery), das 18h às 23h

Receita versão Hugo

Ele se foi, mas as empanadas continuam com produção artesanal, a Buenos Aires Gastronomia, tocada por sua mulher, Alejandra Isasmendi, e pela cozinheira Laurané Cerullo. 

Foi Alejandra quem me contou a versão do Hugo para as empanadas, comida portátil criada por camponeses, ia ali tudo que precisavam comer, envolto numa massa. Claro que isso se espalhou pela

América hispânica e ganhou versões. A Argentina tem diversas, cada estado tem uma, com carne moída, cortada na ponta da faca, fritas, assadas. 

O Hugo dizia que a carne moída era empanada de preguiçosos, fazia e continuam fazendo a tucumana (de Tucumán), carne cortada na faca, cebola, cebolinha, ovo cozido e uva passa. É a que mais se parece com meu arquétipo do que é uma empanada.

Mas Alejandra acrescenta: “Depois de anos no Brasil, incorporamos ingredientes como palmito e até jabuticaba”.

Comi seis diferentes, sou fã da de verdura, a de carne é impecável e me levou direto para minha casa de vila em Palermo Viejo, antes de Palermo virar moda. Gostei das novidades, carne-seca com queijo coalho e pimenta-biquinho, em particular.

Buenos Aires Gastronomia (encomendas). Tel. 99143-6719 

 

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