Luiz Horta

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Luiz Horta

O baião de dois do Maria Farinha e outras dicas com sabor brasileiro

Cozinha nacional tem produtos, modos de fazer e gostos que variam em poucos quilômetros de estrada

​​O Brazil já gosta da comida do Brasil, não resisto a parafrasear Aldir Blanc. Começou timidamente, há clássicos como feijoada que todo mundo come, mas e o resto do repertório do país?

Devagar, alguns ingredientes foram aparecendo no D.O.M., de Alex Atala, no Maní, de Helena Rizzo, a pioneira presença de farinhas, pimentas e comidas regionais como barreado e tacacá no Tordesilhas, de Mara Salles. 

Baião de dois com ovo do restaurante Maria Farinha Cozinha, em Pinheiros
Baião de dois com ovo do restaurante Maria Farinha Cozinha, em Pinheiros - Alberto Rocha/Folhapress

Veio o Mocotó e começou a mostrar que aquela zona vasta que chamávamos Nordeste era mais que três receitas do litoral. O sertão se separou do mar e depois virou plural —há o pernambucano, o mineiro, o potiguar, o baiano... E o Norte que ainda está aparecendo.

Vieram os Ruedas, dona Onça, Jefferson. Não estou contando a história cronológica, mas lembrando como comecei a gostar da comida do Brasil profundo. O Tuju fecha o ciclo na alta gastronomia.

Tem também Ana Luiza Trajano com “Básico - Enciclopédia de Receitas do Brasil”, livro do qual não me separo mais.

Mas meu assunto na coluna não é este. É o da aparição, nestes dois últimos anos, das cozinhas regionais fora da alta gastronomia.

A comida brasileira era apresentada como uma unidade consensual. Hoje, não coincide com fronteiras estaduais, mas com receitas, produtos, modos de fazer e gostos que variam, às vezes, em poucos quilômetros de estrada.

Coisas que entraram para meu apetite, como o mexido baiano do Sotero e agora o baião de dois do Maria Farinha.

Já me confessei farofeiro. O que me faz farinheiro são pratos que misturam sabores e ganham unidade com farinha de mandioca. Em casa era semanal, um resto de carne, ovo, arroz, feijão que sobrava e farinha para amalgamar tudo. 

O baião de dois do Maria Farinha é uma delícia, trouxeram uma porção extra de coentro quando pedi, em cima tem um ovo frito de gema bem laranja. O que mais se pode querer?

Maria Farinha
R. Padre Carvalho, 771, Pinheiros, tel. 3031-5496. De ter. a sex., das 12h às 15h;  sáb., das 12h às 17h

O verdadeiro riesling

Riesling costuma ser a uva favorita dos especialistas e o terror dos bebedores de vinho, traumatizados pela garrafa azul de Liebfraumilch, que atrapalhou a reputação dos grandes vinhos alemães, austríacos e da região da Alsácia. 

Para complicar ainda mais, existe a cepa welschriesling, que aqui se chama riesling itálico, que confunde todo mundo. O Brasil produz muito riesling itálico, que dá vinhos agradáveis e até entra no corte de alguns excelentes espumantes nacionais. 

Mas riesling renano (o nome da verdadeira riesling por aqui) é raro. Quando a Almadén foi comprada pela Miolo, cerca de dez anos atrás, lembro de conversar com Adriano Miolo e ele, com aquela sua educada sutileza reticente, dizer que ainda não tinham decidido o que fazer com o vinhedo de riesling que era parte do acervo da propriedade. 

Agora veio a resposta: para minha alegria, lançaram o Riesling Johannisberg, terroir da Campanha Central. Single Vineyard, quer dizer, de um vinhedo específico, no caso com o nome curioso de Vinhedo da Toca do Tigre. 

É um riesling de grande expressividade, deste ano, safra 2018, bem seco e com acidez espetacular, que me implora por um chucrute com suas carnes ou mesmo um lombo assado. 

Guardarei umas duas garrafas para abrir daqui a um tempo, pois o preço é simpático (achei em uma busca online com valores entre R$ 59 e R$ 68).

RÓTULOS DA SEMANA

1. Estate Series Chardonnay Errazuriz R$ 49,90 (Vinci)
2. Plaisir d’Eulalie. R$ 86,90 (tastevin.com.br)
3. Regeneracion Bonarda. R$ 89,90 (Sonoma)
4. Pedro Ximenez Amansado. R$ 109,90 (Adega Tutoia)

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