Luiz Horta

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Luiz Horta

Tradicional no centro, espanhol Fuentes muda com sucesso para os Jardins

Se tudo for tombado, conservado, as cidades se tornarão parques temáticos

São Paulo

Primeiro a choradeira: “Ah, mas o  Fuentes fechou no centro?”. Que mania temos de lamentar por 
lugares a que não íamos.

Calculo bem duas décadas que não comia lá, mas, caprichosamente, queria que ficasse sempre como minha memória concebia. Se tudo for tombado, conservado, as cidades se tornarão parques temáticos. 

E voltou à minha cabeça aquele dilema: o que faz o restaurante? O lugar ou a comida? A resposta é o famoso: depende.

Travessa redonda de inox vista de cima, uma receita com vários pedaços de carne diferentes, como linguiças
Puchero servido pelo restaurante Fuentes, que reabriu nos Jardins - Rodrigo Silveira/Divulgação


Já escrevi sobre o Freddy, que mudou de endereço algumas vezes e continua o mesmo. Não consigo imaginar o La Casserole, por exemplo, fora daquele cenário do Arouche. Mas quem sabe?

Agora é o Fuentes. Frequentei bastante, quando o dinheiro dava, a velha casa na rua do Seminário. Lá, comi minha primeira paella.

Quase em frente, na esquina, comprei meu primeiro chapéu na El Sombrero, e dei início a uma mania pelo adereço. 

Depois, esse programa mensal, ir comer paella, ficou na lembrança. Os tempos urbanos determinam os hábitos, o “semana que vem eu vou” dá lugar ao esquecimento, e nunca mais voltei.

A casa de chapéus fechou, o centro tomou outros rumos. Agora, o Fuentes reabriu nos Jardins, meu gosto mudou, fui comer puchero, prato meio onipresente em diversas culturas.

Sou fã da cozinha de panela única, em que se agregam coisas (caso da feijoada). Parece fácil o juntamento de ingredientes, mas dá enorme trabalho.

Minha tia Helena fazia um cozido português maravilhoso, ansiado pela família.

evava um dia de trabalho, para que cada coisa atingisse seu ponto exato, legumes sem desmanchar, cebolas inteiras, as carnes, até a reunião final no panelão. 

O cozido do Fuentes, restaurante espanhol, é feito com grão-de-bico, traço distintivo do modelo ibérico, e me deixou satisfeito. A comida mudou, com sucesso, de lugar.

Fuentes 
r.  Dr. Melo Alves, 82, Jardins, tel. 3062-6572. Ter. a sex., das 11h30 às 15h e das 18h às 22h; sáb., das 11h30 às 23h; dom., das 11h30 às 17h

 

Uma escolha fácil

Tanta coisa complica o vinho. Para quem gosta de problemas, há ovos, alcachofras e chocolate, para ficar nos mais citados.

Pois eis uma combinação fácil: um tinto para o cozido —um vinho espanhol ou português, de 
corpo médio, amplo e fácil de beber.

Prato de generosidade, para dividir e repetir, bom ter um vinho no mesmo espírito, agregador, convivial. 
E como estamos precisando dessa mesa reunida outra vez, só pelo prazer de comer e beber.

Escolhi alguns velhos amigos sem erro. Sempre que alguém me diz “estou aqui em pânico, não sei o que comprar”, respondo: procure pelos vinhos de José Maria da Fonseca ou por Periquita (causa espanto sempre, mas é o mais fácil de achar e não tem erro).

Como o puchero me dá sede de vinhos com syrah, coloquei na sugestão um bem fácil de gostar.

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