Luiz Horta

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Luiz Horta

Casas alemãs de São Paulo têm clima de Oktoberfest, mas sem a balbúrdia

Windhuk, em Indianópolis, possui decoração bávara e serve variedade de pratos germânicos

Por alguma razão, que tenho preguiça de pesquisar, Moema é um bairro alemão ou, pelo menos, onde se concentram mais restaurantes alemães em São Paulo. Nos anos de faculdade, na minha remota juventude, tínhamos um grupo que se reunia no restaurante Alpino, onde se discutia ontologia com salada de batatas e existencialismo com torta de maçã. Repetindo, sem saber, atitudes filosóficas francesas.

Já tinha sido picado pela mosca do vinho, mas era produto muito raro e bem mais caro que agora. Bebia pouco, não fumava, apesar de que ser existencialista sem um cigarro na boca é esquisito. Falava muito, divergia bastante e comia chucrute e kassler.

A fome desta comida se intensificou nos tempos que passei em Berlim, com a substituição do Alpino pela ida semanal ao Prater Garten para um pato com repolho roxo. O Prater é uma velha cervejaria, que ficou no lado da antiga RDA (a parte comunista, a Leste) quando havia o muro e guardou a mesma cara na Alemanha unificada.

Chucrute garni do restaurante Windhuk, em Indianópolis
Chucrute garni do restaurante Windhuk, em Indianópolis - Gabriel Cabral/Folhapress

Antes que durma com lembranças tão prosaicas, conto rápido que continuo com a fome alemã semanal e vou pesquisando os lugares paulistanos. O da vez foi o Windhuk. É engraçado perceber que esses lugares ficam parados no tempo (é elogio) e viraram uma hiper-realidade do que já se modernizou na origem. São bávaros na decoração e têm um clima de Oktoberfest, sem a balbúrdia.

No Windhuk não houve discussão, pedi o gigantesco chucrute garnie, cujo nome fui pesquisar. É um chucrute de repolho guarnecido por todas as carnes pensáveis, de porco, é claro: joelho, costeleta e bacon defumados, salsichas branca, preta, salsichão e uma com cominho. 

Tem as versões frita ou cozida, gosto das duas. Joelho de porco é pesado, talvez por isso seja o nome até de banda de punk rock.

Windhuk
Onde: alameda dos  Arapanés, 1.400, Indianópolis, tel. 5044-2040
Quando: seg. a qui., das 17h às 0h30; sex., das 17h às 1h30; sáb., das 11h às 1h30; dom., das 11h às 0h30.

 

Riesling! Outra vez

Curiosamente, Alan Davidson no seu “Oxford Companion to Food” conta a história do chucrute com raízes antigas, como forma de conservação de repolho, semelhante ao kimchi.

Mas diz que a versão que consumimos agora é alsaciana, o tal “choucroute garnie” de que tanto gosto. Claro que a origem do nome é alemã, “sauerkraut”, “sauer” sendo “sour” (azedo), e que pelo som deu no chucrute. Como na gastronomia a fermentação é a técnica do momento (René Redzepi, do Noma, acaba de publicar um livro a respeito, por exemplo), devia ter prestado mais atenção a essa questão. Acho que o volume de carnes que acompanha o chucrute garnie assusta.

Com toda a acidez do repolho condimentado, nem precisa perguntar qual vinho faz a combinação com ele: riesling. Até por ser a principal uva das regiões onde se come chucrute. Mas um branco com boa acidez é opção, e até espumante, mas me parece grotesco chucrute com champanhe, nome para outra banda de rock.

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