Luiz Horta

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Luiz Horta

Um conto extravagante de Natal

Bebo Portos e Madeiras no período, mas saio um pouco do assunto pois vou contar uma gafe

Todo ano faço tudo igual: Natal rima com pernil, tender, salpicão. E com bacalhau.

Prato branco, em fundo branco, com uma posta de bacalhau, tomate e batatas
Bacalhau confit com batatas salteadas, alcaparras, azeitonas, mini-cebolas e tomates do Tasca do Zé e da Maria - Leticia Moreira/Folhapress

É como concebo a festa do ponto de vista alimentar (embora ache a espiritual mais estimulante, no caso, quem não gosta de terminar o ano com uma esperancinha de renascimento?).

Passei quase um mês em Portugal, oficialmente em férias, mas quem escreve sobre comida e vinho trabalha em cada refeição.

Fui ao Douro profundo e dormi na Quinta de Vargellas, onde tive um grande jantar da viagem. 

Estavam à mesa dois Portos espetaculares. Bebo Portos o ano inteiro, são meus vinhos favoritos, e não tenho problema em combiná-los com comida.

Vargellas fica para lá do fim do mundo, paisagem lindíssima onde a luz elétrica chegou recentemente. 

É o equivalente, para mim, a um mosteiro para reciclar energias. Tem gente que viaja para a Índia, eu prefiro o norte português, com confortos britânicos e comida local.

Fujo do assunto pois vou contar uma gafe. Minha anfitriã foi dormir e me deixou com o silêncio da noite, a lareira acesa e duas garrafas: Porto Taylors Tawny 20 anos e  Quinta de Vargellas Vintage 1997.

Prometi a ela acordar cedo, tínhamos um almoço importante no Porto, mas os dois decantadores com os vinhos estavam ali, tão deliciosos.

Fiquei lá pensando na aventura de meu bisavô que largou o Porto com 18 anos e veio para o Brasil em 1877, na história daquele lugar, na presença inglesa, olhando as fotos dos donos com diversos figurões, inclusive uma autografada por Winston Churchill

Enxuguei as garrafas até a penúltima gota, as últimas joguei no fogo, como brinde. Acordei com o som de uma trompa de caça.

Cheguei esbaforido ao almoço, mas pontual. Esperavam-me rindo e com a frase de fino humor inglês: “a trompa fica lá para isso, sabemos acordar hóspedes que amam vinhos”.

Queria falar do Natal, falarei depois, mas bebo Portos e Madeiras no período, achei que esse conto natalino de uma extravagância era melhor.

E, apesar do mês português, fui comer bacalhau, desta vez com um branco encorpado na Tasca do Zé e da Maria.

TASCA DO ZÉ E DA MARIA
ONDE: r. dos Pinheiros, 434, Pinheiros, tel. 3062-5722
QUANDO: de seg. a qui., das 12h às 15h e das 19h às 23h; sex., das 12h às 15h e das 19h às 0h30; sáb., das 12h às 0h30; dom., das 12h às 18h

A tônica da questão

Bebi diversos Portos brancos como drinque, o Portonic ou Porto Tonic  (vi as duas versões escritas).

É uma delícia, mas depende também da  tônica. Andei provando várias, as que são muito para o lado refrigerante não funcionam, somam mais doçura a um vinho que já é doce por natureza. 

Fiquei com duas favoritas, amargas, como devem ser, para equilibrar a mistura: a Prata Premium Tônica e a Tônica 202, um pouco mais difíceis de encontrar, mas o resultado compensa.

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