Luiza Duarte

Correspondente na Ásia, doutora em ciência política pela Universidade Sorbonne-Nouvelle e mestre em estudos de mídia pela Universidade Panthéon-Assas.

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Hong Kong preserva memória e legado de 1989

Acordo 'um país, dois sistemas' permite que ilha tenha homenagens às vítimas do massacre na Praça da Paz Celestial

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Três décadas se passaram, e o silêncio continua imperando sobre as manifestações de 1989 na China, que culminaram com o massacre do 4 de junho na Praça da Paz Celestial (Tianamen), em Pequim.

A repressão sangrenta contra manifestantes que pediam reformas havia mais de um mês ocupa a memória coletiva resumida na foto do “homem dos tanques”.

"o homem dos tanques" confrontando os militares chineses
Famosa imagem dos protestos de 1989 na Praça Tianamen, em Pequim, mostra "o homem dos tanques" confrontando os militares chineses - Arthur Tsang/Reuters

Ainda hoje, qualquer referência a esta imagem, a data ou a textos falando dos protestos e de seu desfecho seguem banidos no país e na internet chinesa.

Ativistas ou familiares de vítimas, como membros do grupo “Mães de Tianamen”, têm vigilância do governo reforçada com a proximidade dos aniversários do massacre.
 
Com o apoio da ONG Direitos Humanos na China, as Mães de Tiananmen lançaram neste mês o projeto “Unforgotten” (não esquecidos, em inglês), com perfis das vítimas.

O importante episódio da história recente chinesa é uma ferida aberta, com culpados não reconhecidos, número de vítimas contestado, vítimas anônimas e famílias não indenizadas.
 
Em Hong Kong, uma dezena de eventos estão marcados para os próximos dias. Além da vigília anual no Parque Vitória, que todos os anos reúne milhares de pessoas, estão previstas missas, debates, recitais e lançamentos de livros.
 
O Museu do 4 de Junho, mantido pelo movimento progressista Aliança Democrática, único no mundo sobre o tema, foi aberto há cinco anos. Sob constante pressão política, o pequeno arquivo já teve que fechar as portas e mudar de endereço algumas vezes. Sofre boicotes e ameaças, mas mesmo assim reabriu em abril e recebe visitas escolares.
 
Na Universidade de Hong Kong (HKU), um projeto da Escola de Jornalismo identifica postagens relacionadas ao 4 de junho que foram censuradas na internet chinesa.

O Weiboscope é uma iniciativa de coleta e visualização de dados na rede social Weibo, o Twitter chinês. As publicações recuperadas com conteúdo censurado são inventariadas pelos pesquisadores.
 
Outra iniciativa de memória reúne 60 jornalistas que testemunharam o ocorrido no livro “Eu Sou Jornalista: Minha História do 4 de Junho" (I am a Journalist; My June 4 Story, no original).

A publicação será lançada na data do aniversário, enquanto o vídeo com os relatos já está disponível no YouTube.
 
O território autônomo é a única parte da China onde essas ações são possíveis.

Questionada por jornalistas sobre sua posição sobre o “4 de Junho”, Carrie Lam, a chefe do executivo de Hong Kong, se esquivou dizendo apenas que governa uma “sociedade livre” e que defenderia o direito de liberdade de expressão e de manifestação dos hongkongueses, graças ao acordo “um país, dois sistemas”, que faz com que o território chinês tenha, entre outros, uma estrutura jurídica distinta.
 
Além da memória, Hong Kong preserva o legado do 4 de junho. Foi aqui que ocorreu a maior mobilização estudantil na China desde 1989.

O Movimento dos Guarda-Chuvas em 2014 usou a desobediência civil para exigir o voto universal direto no território. A região próxima à sede do governo local foi ocupada por jovens por mais de dois meses.

O desfecho dessa vez foi pacífico, sem mortos. Mas prisões, perseguição, vigilância e outras penas seguem tentando silenciar lideranças do movimento.
 
Taiwan também não esqueceu e segue exercendo sua parcela de rebeldia. Um tanque inflável em tamanho natural com um homem inflável em frente foi colocado diante do Memorial Chiang Kai-Shek, na capital Taipei. A instalação foi criada pelo artista local Shake.

Durante uma exposição no mesmo ponto da cidade, foi apresentada uma estátua da Deusa da Democracia, uma cópia da original feito por estudantes em Pequim durante os protestos de 1989 e colocada na principal praça da capital chinesa por cinco dias até o massacre ocorrer.

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