Anunciado em fevereiro, ao mesmo tempo que o polêmico projeto de lei de extradição que gerou uma onda de protestos, a Área da Grande Baía vê Hong Kong, Macau e a província de Cantão como uma região integrada e com objetivos comuns. O plano de desenvolvimento econômico do governo chinês se apresenta como uma saída para a absorção pacífica dos territórios.
Vista como prioridade para Pequim, a integração econômica e de transporte e a aproximação da gestão de 11 cidades do Sul da China é um desafio para a autonomia política de Hong Kong e Macau.
O projeto define os papéis dos territórios no processo de conexão com a província mais rica do país. É apresentado como uma oportunidade para potencializar ganhos ao aumentar a aproximação da China continental. A região soma 67 milhões de habitantes e um PIB de US$ 1,5 trilhão (R$ 6 trilhões), em 2017.
Hong Kong tem se mostrado como um incômodo para a grande narrativa chinesa de uma só China. É palco de ações de desobediência civil cada vez mais provocativas, e não há sinais de enfraquecimento ou fim dos protestos, que já duram dois meses. Há uma crise de representatividade. O governo local amarga a perda de confiança da população, e cresce a demanda por uma reforma do sistema eleitoral.
A China zela pela unidade territorial, por uma homogeneidade étnica e identitária e defende um nacionalismo revisionista. Políticas repressivas em larga escala estão sendo adotadas em regiões como Tibete e Xinjiang para silenciar minorias. Nas ruas do território há medo de assimilação e incerteza com o futuro.
A Área da Grande Baía aparece como um guarda-chuva para toda essa região do sul da China. O governo tem promovido o projeto intensamente. Mesmo não anunciado como tal, ele pode ser a resposta da China para as dúvidas em relação ao futuro de Hong Kong depois de 2047.
Os termos do retorno do território do domínico britânico para o domínio chinês garantem o modelo “um país, dois sistemas” por 50 anos. Hong Kong é parte da China, mas manteve nas últimas duas décadas regras de governo distintas e relativa autonomia.
O que acontece depois do fim do prazo do acordo, se Hong Kong guarda o status de região especial ou não, ainda não foi determinado e gera ansiedade e frustração entre os honguecongueses.
A questão da propriedade de terras, pressiona para uma definição, como foi no caso da Declaração Sino-Britânica. Em Hong Kong, o governo é o proprietário de todas as terras. Elas são alugadas para construtoras via leilões.
Pelo menos 350 mil desses contratos de arrendamento vão expirar em 2047 e empréstimos para financiamento imobiliário já ultrapassam a data e entram em um período de indefinição jurídica.
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