Luiza Duarte

Correspondente na Ásia, doutora em ciência política pela Universidade Sorbonne-Nouvelle e mestre em estudos de mídia pela Universidade Panthéon-Assas.

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Crise política se alastra no território chinês sem solução à vista

Aproximação das celebrações dos 70 anos da fundação da República Popular da China torna cenário ainda mais tenso

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O movimento civil em Hong Kong ultrapassou a marca de cem dias de mobilização. Um projeto de extradição levou milhões de pessoas às ruas ao longo de quinze semanas, o que forçou o governo a desistir da legislação, mas outras demandas estão na mesa. 

A mais importante delas é abertura de uma investigação independente sobre abuso policial.

Há ainda a anistia aos mais de 1.450 manifestantes presos, a retirada da classificação de "tumulto" do protesto do dia 12 de junho e uma reforma eleitoral que permita o voto universal direto no território.

A China tem evitado declarações diretas sobre a maior crise política interna dos últimos 30 anos e investido na estratégia de deixar o governo de Hong Kong na linha de frente, enquanto aumenta a pressão sobre elites locais que controlam o mercado imobiliário. 

O território chinês tem hoje as moradias mais caras do mundo, um custo que a nova geração que está nas ruas tem cada vez mais dificuldade para pagar. Para Pequim, medidas de alívio econômico se mostram como um possível bálsamo para apaziguar os ânimos e dividir manifestantes moderados de radicais.

O foco da comunicação do governo segue insistindo no impacto econômico que meses de protestos têm provocado na economia local. 

O comércio registra queda nas vendas, houve redução no número de turistas —em especial no volume de turistas chineses que costumavam lotar a cidade nos finais de semana— e feiras de negócios estão menos movimentadas. 

No último mês, o aeroporto internacional de Hong Kong registrou a maior queda da década no número de passageiros: cerca de 850 mil pessoas a menos passaram pela principal porta de entrada do centro financeiro asiático. 

Em um cenário menos próspero, a China quer ser vista como um mercado que pode proporcionar um futuro promissor para a geração dos manifestantes e que, por isso, eles não deveriam querer ser fichados pela polícia em um protesto cada vez mais hostil ao governo chinês —ou seja, não por medo de repressão, mas por medo de perder dinheiro e status.

A pressão de Pequim tem exigido que empresas tomem posição sobre os protestos. É o caso do MTR, o metrô de Hong Kong, que depois de ser acusado pela China de colaborar com os manifestantes passou a fechar estações nas horas e nas proximidades dos pontos de protesto.

Em seguida, o MTR se tornou alvo de múltiplas ações de vandalismo. 

O clima de caça às bruxas tem levado funcionários a esconderem suas posições políticas com medo de represálias. 

A participação de trabalhadores da companhia aérea Cathay Pacific e de quatro  grandes agências de cotação de risco em ações políticas ou na campanha de crowdfund para publicar anúncios em jornais a favor dos protestos geraram punições, demissões e pedidos de investigação.
 
Há um mês, Carrie Lam falou na criação de um mecanismo de debate entre governo e população para tirar o território do impasse político em que se encontra, mas só nesta semana voltou a falar dessa plataforma de debate público. 

A ideia é que o sistema esteja no ar neste mês. A chefe do executivo de Hong Kong adiantou que o mecanismo pode ser de longo prazo e terá três formatos, com ao menos um deles incluindo a participação de residentes. 

Os outros envolverão conversas entre setores econômicos com sessões abertas para até cem participantes. 

Enquanto isso, novos protestos seguem sendo marcados.
 
A aproximação das grandes celebrações dos 70 anos da fundação da República Popular da China, em 1º de outubro, torna o panorama ainda mais tenso. 

Uma grande parada militar em Pequim e um importante discurso de Xi Jinping serão transmitidos ao vivo. Diversos outros eventos acontecerão em todo o país para marcar a data. 

Essa é uma festa que os manifestantes de Hong Kong pretendem tentar estragar. A tradicional queima de fogos de artifício que acontece anualmente no porto Vitória já foi cancelada por motivos de segurança.

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