Luiza Duarte

Correspondente na Ásia, doutora em ciência política pela Universidade Sorbonne-Nouvelle e mestre em estudos de mídia pela Universidade Panthéon-Assas.

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O inimigo do meu inimigo é meu amigo

Inspirados por Taiwan, manifestantes veem EUA como aliado em busca do voto direto em Hong Kong

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Com a primeira demanda dos protestos atendida, o governo de Hong Kong aposta em apaziguar ânimos e dividir manifestantes. Carrie Lam anunciou nesta quarta-feira (4) a retirada completa da lei de extradição, projeto que desencadeou um profundo conflito político no território.

Para boa parte dos jovens que estão nas ruas durante os últimos três meses, o voto direto e universal é o objetivo final. O impasse com o governo expôs a crise de representatividade do modelo atual e as incertezas sobre o futuro do território chinês.

Taiwan se prepara para eleger o próximo presidente em janeiro de 2020. A ilha, tida por Pequim como uma província rebelde, é inspiração para manifestantes que querem escolher nas urnas o chefe do executivo de Hong Kong, como prevê a Constituição local. Para isso, a fórmula da ajuda americana é encarada como “um mal necessário”.

Ao ser questionado sobre a influência americana nos protestos de Hong Kong, como acusa o governo chinês, um jovem arquiteto que protestava em frente à sede do governo respondeu com um provérbio em mandarim: “o inimigo do meu inimigo é meu amigo” ("敌人的敌人是我的朋友", no idioma).

Em plena guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, o protesto convocado para o próximo domingo (8) será em frente ao consulado dos EUA.

A manifestação pedirá a aprovação no Congresso americano do “Ato pelos Direitos Humanos e Democracia de Hong Kong”, proposta que visa permitir o congelamento de bens e impedir a entrada em solo americano de oficiais do governo de Hong Kong.

Joshua Wong e Nathan Law —importantes membros opositores do Partido Demosisto, que já foram condenados e presos pela justiça local— tiveram um encontro com uma diplomata americana, o que gerou novo atrito com o governo.

No último mês, parlamentares do Partido Civic (liberal) fizeram um tour pelos EUA. Além das declarações americanas em apoio aos protestos, há um projeto de lei em Washington para banir a venda de munição e de equipamentos americanos para a polícia de Hong Kong.

O presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, expressou apoio aos protestos em Hong Kong na primeira oportunidade e revelou que estuda pedidos de asilo político de manifestantes. 

Até agora, mais de 1.100 pessoas foram presas em Hong Kong. Dezenas dos envolvidos na invasão do Parlamento e que temem processos teriam buscado refúgio em Taiwan. 

A ilha é uma rota de fuga natural, e o trânsito de dissidentes chineses entre as duas áreas no sul da China é antigo. A ponte aérea de menos de 1h30 é rápida e financeiramente acessível até para estudantes.

O envolvimento de Taiwan na crise política vizinha, mais uma vez, gerou irritação em Pequim. A China alertou que não vai tolerar que Taiwan se torne um local de “abrigo para criminosos”.

A turbulência nesse importante centro financeiro asiático aquece a 15ª corrida presidencial em Taiwan que opõe a atual presidente, Tsai Ing-wen, do Partido Democrático Progressista, e o candidato pró-China Daniel Han Kuo-yu, prefeito de Kaohsiung, que concorre pelo Partido Chinês Nacionalista.

O tipo de relação dos taiwaneses com a China terá peso decisivo nas urnas. Tsai subiu nas pesquisas depois de apoiar os protestos de Hong Kong e rechaçar mais uma vez o modelo de “um país, dois sistemas”.

O modelo rege o território chinês desde o fim dos anos 90 e Pequim propõe há anos para Taiwan como uma forma de integração suave, a qual manteria um certo grau de autonomia na ilha.

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