Xi Jinping esteve na Índia neste mês, dias depois de receber em Pequim o primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan. A decisão de Déli de alterar o status da disputada região da Caxemira em agosto afeta o delicado equilíbrio das relações sino-indianas.
A revogação de sete décadas de autonomia na região reivindicada pelo governo paquistanês movimentou um balé diplomático na região e demonstrações militares.
A China criticou abertamente a ação e se disse “bastante preocupada” com a mudança. Pequim prometeu apoiar o pedido do Paquistão para uma discussão sobre o tema dentro do Conselho de Segurança da ONU.
O governo chinês acredita que a decisão indiana afeta a sua soberania, já que a região de Aksai Chin, ocupada pelos chineses, é tida tanto como uma área do estado de Jammu e Caxemira quanto da província do Xinjiang, no extremo oeste da China.
Essa não é a única disputa de fronteiras entre os dois. Para Pequim, o estado indiano de Arunachal Pradesh é o “Tibete do Sul”.
Outro calo é a presença do Dalai Lama. A cidade de Dharamsala, no lado indiano dos Himalaias, é hoje a residência do líder espiritual inimigo político da China e a sede da Administração Central Tibetana (ACT), o governo do Tibete no exílio.
Neste ano, milhares de tibetanos ao redor do mundo marcam 60 anos desde a fuga do território.
A aproximação entre China e Paquistão gera evidente desconforto no vizinho. Pequim fez do Corredor Econômico com o Paquistão a joia da coroa de seu ambicioso programa de desenvolvimento global Belt and Road Initiative (informalmente, Nova Rota da Seda) —do qual a Índia insiste em ficar de fora.
Mesmo tendo afirmado que as relações com Islamabad são “solidas como a rocha”, o dirigente chinês teve um “encontro informal” com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, o segundo desde que um atrito na fronteira entre as duas mais populosas nações do mundo voltou a eclodir há dois anos.
A reunião na Índia foi precedida de exercícios militares —demonstrações de força que são recorrentes antes de grandes eventos diplomáticos da agenda sino-indiana.
A dinâmica de cooperação-competição também se reflete nas trocas comerciais. Embora as importações chinesas tenham crescido 15% nos últimos cinco anos, há um déficit comercial de US$ 53 bilhões favorável à China.
A Índia quer a retirada de barreiras para a entrada de produtos farmacêuticos, eletrônicos e agrícolas no mercado chinês.
Modi, que nos últimos anos aproximou o país dos EUA, iniciou seu segundo mandato em maio. Ele e Xi precisam se entender bem, já que ambos, ao que tudo indica, vão permanecer na liderança pelos próximos anos.
Os desentendimentos históricos e problemas atuais exigem talento de equilibrista e não caminham para uma solução de curto prazo.
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