Luiza Duarte

Correspondente na Ásia, doutora em ciência política pela Universidade Sorbonne-Nouvelle e mestre em estudos de mídia pela Universidade Panthéon-Assas.

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Luiza Duarte

Turismo predatório no Sudeste da Ásia

Em outubro, o segundo maior e mais importante feriado da China movimenta o turismo na região

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Hong Kong

O painel de partidas do aeroporto internacional de Cantão, cidade com 14 milhões de habitantes no sul da China, enfileira voos para Bancoc. Turistas chineses são quase 30% dos mais de 38 milhões de pessoas que visitaram a Tailândia no último ano.

A semana de ouro no país mais populoso do mundo começa com a festa nacional, no 1º de outubro, e termina seis dias depois. Esse é o segundo mais importante momento de férias coletivas no gigante asiático, só ficando atrás do Ano Novo Chinês.
 
Hong Kong anda vazia com os protestos. Hotéis amargam uma taxa de ocupação que não passa dos 20%, mas praias do Vietnã e das Filipinas seguem cheias.
 
O expressivo aumento do número de turistas chineses no exterior nos últimos anos tem transformando diversas áreas no Sudeste Asiático, fomentando a construção de grandes hotéis, shoppings e blocos de apartamento, como os das praias de Hoi An ou de Chiang Mai.

Ilha de Boracay, nas Filipinas - Charlie Saceda/Reuters

Na maior parte das vezes em grupo, chineses fizeram milhões de viagens internacionais no último ano e há grande potencial de expansão, já que o poder aquisitivo cresce e menos de 10% da população possui passaporte.

O impacto econômico desse movimento vem acompanhado de preocupante impacto no meio ambiente e de gentrificação, que empurra comunidades locais para áreas mais remotas.
 
Boracay, nas Filipinas, se transformou em um caso emblemático do turismo predatório nessa parte da Ásia. A ilha paradisíaca, hoje abarrotada de resorts, cresceu rápido demais e sem estrutura de saneamento ou coleta de lixo que acompanhasse. Os turistas vieram em massa, gerando danos irreversíveis e montanhas de lixo.

Filipinas

Perto e barato para os chineses, as Filipinas possuem vasta oferta de belas praias. Elas são o grande atrativo do turismo, um setor que emprega e é uma importante fonte de renda para o país. Tão importante que o presidente filipino, Rodrigo Duterte, chegou a declarar a proteção do meio ambiente uma prioridade do seu governo.
 
A fala veio acompanhada do fechamento por seis meses da ilha de Boracay, no ano passado. Um gesto emblemático que foi visto no país como uma lição para as diversas outras ilhas que vivem do turismo de suas águas cristalinas.

Durante a interdição, a promessa era recuperar a vida marinha e forçar estabelecimentos a obedecerem normas de tratamento de resíduos. Reaberta, Boracay agora tem um limite de visitantes e novas normas.
 
O governo vem promovendo um movimento nacional para inspecionar, multar e fechar hotéis e restaurantes que violem a legislação ambiental, mas ao mesmo tempo autorizou a construção de um grande cassino e resort em Boracay.

Duterte não é um ambientalista, longe disso, seu governo anulou o cancelamento de licenças para mais de duas dezenas de mineradoras infratoras e as Filipinas são o país no mundo que mais mata ativistas em defesa do meio ambiente, de acordo com dados da Global Witness.
 
Mas o turismo importa e esse é um turismo que depende da preservação do meio ambiente. Siargao, o novo destino de praia da vez, tenta não repetir os erros de Bali, mas pode ser muito tarde.

Garrafas e sacolas plásticas não são vendidas na ilha, canudos são de papel, estabelecimentos confirmam ter fossa e pedem economia de água e luz, mas o aeroporto local já é pequeno para o fluxo de turistas. Com apenas uma rua asfaltada e possivelmente menos de 300 carros, o vilarejo de General Luna tem vários restaurantes e vilas em construção.

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