Luiz Weber

Secretário de Redação da Sucursal de Brasília, especialista em direito constitucional e mestre em ciência política.

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To Moro or not to Moro

Situação do ministro da Justiça no governo Bolsonaro exige novo termo nos dicionários para descrever sucessão de atropelos

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No final dos anos 1980, Robert Bork foi indicado para ocupar uma das nove cadeiras da Suprema Corte dos Estados Unidos. Conservador, republicano, espalhafatoso, sincericida, o jurista foi bombardeado pela opinião pública liberal.

O desgaste foi grande, e a derrota tão humilhante no Senado que o sobrenome do professor de Yale virou um verbete no dicionário Oxford. "To bork" traduz hoje o ato de barrar —mediante campanha de descrédito— determinada candidatura a cargo público não eletivo de prestígio.

Nunca um nome para o STF foi rejeitado no Senado desde a promulgação da Constituição de 1988 (aliás, os únicos reprovados foram indicados por Floriano Peixoto, no fim do século 19). Não há um verbo igual a "to bork" por aqui.

O ministro Edson Fachin passou por uma dura sabatina de 12 horas em 2015 (alimentada por uma inédita campanha contrária nas redes sociais) e muitos pensaram que seria "borkado". No final, foi aprovado por um placar até folgado na comissão: 20 a 7. O neologismo não vingou por aqui.

A política e o mundo jurídico sempre apresentam situações novas, inéditas, em busca de rótulos. O esvaziamento da pré-candidatura do ministro Sergio Moro ao Supremo, minada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, está a exigir novo verbo, um substantivo original.

Não se trata de uma fritura clássica. Essa expressão já está incorporada ao léxico político e se adequa mais aos ocupantes de cargos públicos que são desestabilizados sutilmente pelo presidente até serem exonerados. O caso de Moro é diferente. Bolsonaro faz bullying com o ministro, que abriu mão de duas décadas de magistratura, diz que nomeia quem quiser na pasta de Moro (inclusive o diretor-geral da PF) e que não prometeu o Supremo ao ex-juiz. Enfim, é uma fritura sem precedentes.

Para designar tal situação, poderia se criar a palavra “moro”, substantivo masculino a nomear indivíduo que abandona uma carreira para servir a um governo, sendo, porém, submetido a hostilidade de autoridade superior, mas permanecendo impassível na esperança de recompensa prometida. Exemplo: “Ele é um moro, engole sapo todos os dias, elogia o chefe, para conseguir a promoção e o aumento (prefere dois passarinhos voando a um na mão).”

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