Luna Lomonaco

Italiana, mestre pela Universidade de Barcelona, é pesquisadora do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). Foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio SBM (Sodade Brasileira de Matemática), em 2019.

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Luna Lomonaco

Matemática é a linguagem perfeita

Por vezes incompreendida, a disciplina permite explicar nitidamente nossas ideias

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Certa vez, fui à Suécia para um seminário. Lembro-me bem de três coisas: do frio inacreditável, da cerveja cara e de minha apresentação. Estava quase no fim dela quando um sueco me olhou e sorriu. Soube então que, para ele, eu já poderia parar de falar naquele momento, porque ele tinha entendido aonde eu queria chegar.

Na matemática, criamos mundos paralelos e perfeitos, respondendo a um chamado interior: ir além do material e do imperfeito. Dante Alighieri fez Ulisses dizer: "Considerai a vossa procedência: não fostes feitos para viver quais brutos, mas para buscar virtude e sapiência" ("A Divina Comédia"). Buscar conhecimento é próprio da natureza humana.

Mas há algo ainda mais intrínseco: a comunicação. Tanto é que, nas prisões, a punição maior é o isolamento.

Luna Lomonaco, pesquisadora do Instituto de Matemática Pura e Aplicada
Luna Lomonaco, pesquisadora do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, em apresentação no dia em que recebeu o Prêmio SBM de Matemática, em agosto de 2019 - Divulgação

Pode parecer estranho, mas, para mim, a matemática é a linguagem perfeita: extremamente sofisticada, complicada e até aterradora, mas perfeita. Não há equívocos, e isso nos permite explicar nitidamente as nossas ideias.

Essa comunicação se opõe à linguagem comum, cheia de ambiguidades. Por vezes falo "amarelo", mas meu marido, holandês, não entende, pois enxerga "verde". Tudo piora quando passamos a ideias mais abstratas. Pirandello explica: "Temos todos um mundo interno: cada um o seu mundo de coisas! E como podemos nos entender se nas palavras que falo coloco o sentido e o valor das coisas como são dentro de mim, enquanto quem as escuta inevitavelmente as entende com o sentido e o valor inerentes a ele? Acreditamos nos entender; não nos entendemos nunca!".

Na matemática, quando nos comunicamos, a ideia consegue passar de uma cabeça para outra. Isso aconteceu na Suécia, naquela apresentação onde não pude fazer nada além de sorrir de volta. Feliz, porque tinha conseguido a comunicação perfeita da ideia.

Esta coluna foi produzida para a campanha #CientistaTrabalhando

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