Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Descrição de chapéu Coronavírus

Para Bolsonaro, anulação de CPFs não é tão grave quanto mortes de CNPJs

Nas lápides: 'Que essa videolocadora desfrute da vida eterna em um paraíso fiscal'

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Acompanhado por Paulo Guedes, lobistas e empresários, Jair Bolsonaro foi pessoalmente ao Supremo Tribunal Federal em uma tentativa de sensibilizar o ministro Dias Toffoli a respeito das aflições do empresariado. Sua charanga fúnebre pediu o relaxamento do isolamento social, medida adotada no mundo inteiro com o único objetivo de salvar vidas.

Ilustração de dez covas com cruzes. Pode-se ler "CPF"ou "CNPJ"na frente de cada uma e há Jair Bolsonaro falando "Não sou coveiro, tá ok?" do lado
Silvis/Folhapress

“Haverá mortes de CNPJ”, enfatizou um empresário do setor de brinquedos que, pelo visto, está levando seu trabalho um pouco a sério demais.

Para a patota de Bolsonaro, o cancelamento de alguns milhares de CPFs não é um sintoma tão grave quanto os prejuízos econômicos causados pelas políticas de quarentena.

A iminência de um colapso no sistema de saúde ficou em segundo plano, mas inspirou metáforas que roubaram a cena. Bolsonaro chegou a afirmar que a indústria brasileira está na UTI e que, depois da UTI, vem o cemitério.

Como seria um cemitério de CNPJs? Nas lápides, leriam-se epitáfios como “aqui jaz mais uma hamburgueria que não vingou”, “descanse em paz, Havan Lojas de Departamentos Ltda.,” ou “que essa videolocadora desfrute da vida eterna em um paraíso fiscal”?

As figuras de linguagem utilizadas pela comitiva de Bolsonaro podem sugerir que ele está humanizando as empresas. Ledo engano. Se o presidente tratasse CNPJs como trata seres humanos, seria bem diferente.

“Não sei ao certo quantos CNPJs morreram de Covid-19, não sou coveiro”, diria Jair Bolsonaro.

“Não é tudo isso que a mídia propala, tem muita empresa que já estava inadimplente e estão alterando a causa mortis no atestado de óbito para Covid-19. Aconteceu com o CNPJ do primo de um conhecido meu.”

“Eu não sou contador, não sou economista, mas acho que o CNPJ brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê a empresa mergulhada em dívidas, enroscada na malha fina, tomando processo trabalhista, e não acontece nada com ela.”

“Algumas empresas vão morrer, lamento, e daí? Não vão colocar no meu colo uma conta que não é minha.”

Bolsonaro não está humanizando CNPJs, está desumanizando CPFs.

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