Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Manuela Cantuária
Descrição de chapéu

Novo inimigo do Zé Gotinha é o governo Bolsonaro, mais perigoso do que a Covid-19

Aos 36 anos, personagem precisa enfrentar agora um problema maior do que bactérias e vírus

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Na penumbra de um porão no Ministério da Saúde, ­Zé Gotinha acorda­ tateando a cabeceira em busca de uma talagada de Dreher que o convença a sair da cama. O ano é 2020. Um ano difícil para todo mundo, mas especialmente doloroso para um boneco criado com o único objetivo de convencer os brasileiros a se vacinarem.

Aos 36 anos de idade, Zé Gotinha vive das lembranças de seus dias de glória. Suas campanhas pela vacinação foram marcadas por parcerias de sucesso, passando pela Xuxa e pelo trenzinho Carreta Furacão. Em 1994, foi convidado especial do então presidente Itamar Franco na cerimônia em que o Brasil recebeu o certificado de erradicação da pólio. Uma vitória conquistada graças ao infalível poder de persuasão de uma mascote amada por milhões de brasileiros.

Mas sua saudosa rotina também era feita de humilhações. Quantas dancinhas constrangedoras, quantas turnês intermináveis pelos postos de saúde Brasil adentro, quantos bicos na canela de crianças mal-educadas. Mesmo assim, manteve sua cabeça desproporcional erguida, com a certeza de que estava do lado da ciência.

Hoje esse herói nacional não goza de qualquer prestígio. Nunca viu a cara do ministro da Saúde do atual governo. Todos os dias, espera que alguém bata à sua porta, convocando-o à batalha que nasceu para travar. Até agora, nada.

Em março, quando descobriu que havia uma pandemia em curso, Zé Gotinha sentiu um sopro de esperança. Chegava o momento de regressar aos braços do povo tal qual Getúlio. Voltou a malhar, a compor suas musiquinhas chiclete e passou a acompanhar as notícias sobre a corrida pela vacina contra a Covid-19. Infelizmente, a sua empolgação não durou muito.

Ilustração de personagem que tem formato de uma gota chorando
Ilustração de Silvis - Silvis

Zé Gotinha descobriu que seus inimigos não eram mais bactérias e vírus, e sim o próprio governo. A ignorância havia se infiltrado irremediavelmente na estrutura de poder da qual a mascote também fazia parte. O discurso de desconfiança acerca das vacinas desenvolvidas contra o vírus partia de ninguém mais, ninguém menos do que do atual presidente, Jair Messias Bolsonaro.

Foi com profunda decepção que recebeu a notícia de que a parcela de brasileiros que não quer se vacinar está crescendo. Agora assiste, incrédulo, ao vídeo no qual uma multidão verde e amarela se aglomera em São Paulo para protestar contra a obrigatoriedade da vacina. A cada dia que passa, Zé Gotinha é obrigado a testemunhar, de mãos atadas, Bolsonaro destruir seu legado.

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