Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Manuela Cantuária
Descrição de chapéu

Bem-aventurados os que não tiveram retinas esfoladas pela 'dança do impeachment'

Criador da coreografia tinha plena consciência de que era ele, com domínio da expressão corporal, o responsável pelo ocorrido

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Às vezes, no silêncio da noite, eu fico imaginando por onde anda o coreógrafo da "dancinha do impeachment". Bem-aventurados aqueles que não tiveram suas retinas esfoladas pelo vídeo viral de 2016, no qual um flash mob de dançarinos com os rostos pintados de verde e amarelo expressavam sua indignação para com o governo federal com passos de axé music.

O coreógrafo que povoa minha insônia elaborou uma sequência de movimentos que mudariam os rumos do Brasil. Braços para o alto, primeiro para a direita, em uma clara alusão à orientação política do grupo, depois para a esquerda, depois para a extrema direita, seguido de mãos fechadas para frente e para trás como quem chegou atrasado ao Enem e esmurra uma porta imaginária.

multidão de mulheres vestida com camisa do Brasil enquanto dança uma coreografia
Ilustração de Silvis para a coluna de Manuela Cantuária de 19 de janeiro de 2021 - Silvis/Folhapress

O vídeo rendeu boas piadas e memes, marcando o último momento em que a esquerda brasileira teve motivos para sorrir, já que, no dia 31 de agosto de 2016, Dilma perdeu seu cargo de presidente da República, concretizando a profecia dançante.

E enquanto parte da população estava convicta de que Dilma havia sido alvo de um grande acordo nacional, com o Supremo, com tudo, o criador da "dancinha do impeachment" tinha a plena consciência de que era ele, com seu incrível domínio da expressão corporal, o principal responsável pelo ocorrido.

Não satisfeito em transformar Michel Temer em presidente da República, o coreógrafo queria ver o povo brasileiro dançando ainda mais. Foi assim que, em 2018, nascia uma nova coreô, dessa vez, em defesa do então candidato à Presidência da República, Jair Messias Bolsonaro. O passinho da arminha com a mão, grande inovação de sua segunda obra, conseguiu paralisar a oposição pelo sentimento de vergonha alheia.

Pois bem, cá estamos. Bolsonaro, enquanto presidente da República, comete crimes contra a humanidade cada vez mais graves, e meus pensamentos insistem em cirandar em torno da "dancinha do impeachment" e todas as imagens fortes que ela evoca.

Parafraseando o tuíte de Luiz Antônio Simas, qualquer manifestação contra o governo atual é válida. Flash mobs em frente ao prédio do Rodrigo Maia, ritual na Casa da Dinda, frente ampla com quem você jamais seguiria no Twitter, até hashtag com erro de ortografia. Só não dá para ficar parado. Coreógrafos do Brasil, uni-vos.

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