Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Manuela Cantuária
Descrição de chapéu

Só a vacina poderá dizer o futuro dos casais formados durante a pandemia

Imunizante proporcionará o momento de descobrir se ele, ou ela, finge que dorme no metrô para não ceder o lugar

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Perde-se muito tempo discorrendo sobre as reações adversas de vacinas contra a Covid 19, quando sabemos que seus benefícios são indiscutíveis. Porém, pouco se fala de um seleto grupo um pouco mais vulnerável aos efeitos a longo prazo da imunização: os casais pandêmicos.

Todo mundo conhece um casal que se conheceu durante a pandemia. Histórias vividas literalmente a dois, entre quatro paredes, sem qualquer interferência de terceiros. Uma comédia romântica a que ninguém assistiu, sobre solidões que se atracam enquanto o mundo lá fora se despedaça como uma paçoca esquecida no fundo da bolsa.

dois homens se beijam de máscara, em desenho com as cores da bandeira LGBT
Publicada em 28 de junho de 2021 - Silvis

Pombinhos pandêmicos que sobreviveram todo esse tempo à base de migalhas: feitos um para o outro porque ambos gostam de pão sueco e têm crises de ansiedade no domingo à noite.

Duas pessoas que não precisaram apresentar seu novo amor aos amigos, à família, aos colegas de trabalho. Que não sabem se o outro bufa no teatro, ou faz barulho excessivo com um saco de jujubas no cinema. Que nunca viram a forma como o outro trata o garçom.

É quando a tão aguardada vacina chega com a promessa de furar essa bolha.

Hora de descobrir se ele, ou ela, finge que está dormindo no metrô para não ceder o lugar. Se assiste a um show filmando tudo com o celular, ou com a mão abraçada à sua cintura feito o carona de uma moto a 200km/h. Se bebe até ser expulso de uma festa porque tentou morder a bunda do segurança. Ou se decide sair à francesa justo quando está tocando sua música preferida.

Se é daqueles, ou daquelas, que têm a brilhante ideia de abrir o relacionamento uma semana antes do Carnaval. Se reclama que o mar da Bahia é morno demais. Se vai engolir um palavrão quando a peste do seu sobrinho afundar-lhe um bico no meio da canela.

Veja bem, ninguém aqui está dizendo que uma tragédia em escala global vai deixar saudades. Mas, por esse único e específico aspecto, as decisões do casal pandêmico eram muito mais simples. O que vamos jantar? Ao que vamos assistir? Quem vai limpar o vômito do gato?

A partir de agora, terão de planejar fins de semana, viagens, e um futuro até então em suspenso, empoeirado no fundo do armário junto com as roupas de festa.

Só o futuro será capaz de dizer se permanecerão juntos, na saúde e na doença —não necessariamente nessa ordem— quando enfim, acompanhados.

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