Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Manuela Cantuária
Descrição de chapéu

Depois de 'O Conto de Aia', vem aí 'O Conto do Aio', uma distopia feminista

Se antes eles tinham prazer em transar com mulheres sem qualquer responsabilidade afetiva, agora o fazem por obrigação

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"O Conto do Aio" é uma distopia feminista que se passa em um futuro próximo, quando um grupo de fundamentalistas ideológicas consegue instaurar um regime opressor no qual os homens perdem todos os seus direitos.

Em meio à guerra que precedeu ao golpe, atentados com bombas atômicas deixaram os homens inférteis por causa da radiação. Os poucos que ainda podiam procriar foram escalados como aios e sua única função passou a ser repopular o país.

Desenho de um homem barbudo com boné e capa vermelha.
Ilustração de Silvia Rodrigues para a coluna de Manuela Cantuária publicada em 1º de agosto de 2022 - Silvis/Folhapress

Os aios podem se alimentar apenas de espinafre, ostras e cogumelos, para aumentar a qualidade de seu esperma. Se antes tinham prazer em transar sem camisinha com mulheres sem qualquer responsabilidade afetiva, agora o fazem por obrigação.

A vida dos aios se resume a fecundar as comandantes —mulheres que fazem parte da alta cúpula do regime. Quando elas estão no período fértil, os obrigam a participar de um ritual macabro no qual eles são drogados com medicamentos para disfunção erétil e forçados a ter relações sexuais com elas.

Acontece que muitas comandantes não conseguem sentir atração sexual por seu aio. Para contornar essa questão, eles são submetidos a uma intensa rotina de exercícios físicos, cuidados com a aparência, cursos de etiqueta e aprimoramento da performance sexual, com o objetivo de torná-los mais
desejáveis ao sexo oposto.

Os homens inférteis também não são poupados de uma vida de privações e trabalhos forçados. São divididos em categorias, como a dos padres, por exemplo. O conceito de padre foi ressignificado e agora remete à origem etimológica da palavra, que quer dizer pai. Ou seja, são homens obrigados a se dedicar integralmente ao cuidado das crianças e adolescentes do regime, proibidos de ter empregos e uma vida
social (e sexual) ativa.

É quando um grupo de rebeldes planeja uma revolução para restabelecer os privilégios perdidos dos homens, como o direito de objetificar sem ser objetificado, de sair para comprar cigarros e nunca mais voltar, de não ter seus corpos controlados pelo governo, nem temer pela própria vida ao não se submeter às vontades do gênero oposto.

Ao final dessa jornada, já não importa quem deterá o poder. Em um sistema de opressão de gêneros, é a humanidade, como um todo, que sai perdendo.

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