Manuel da Costa Pinto

Jornalista, mestre em teoria literária e literatura comparada pela USP

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Manuel da Costa Pinto

Com releituras visuais, livro descreve bibliotecas ao redor do mundo

Gravura do livro "As Bibliotecas de Maria Bonomi", representando a Bibliotheca Apostolica Vaticana
Gravura do livro "As Bibliotecas de Maria Bonomi", representando a Biblioteca Apostólica Vaticana - Maria Bonomi/Divulgação
 

LIVROS

Viagem visual pelos templos do livro

“As bibliotecas, tanto quanto os livros, podem traduzir o espírito de uma época”, escreve Marisa Midori num dos textos dessa obra em que a descrição de algumas das mais importantes bibliotecas do mundo tem como contraponto releituras visuais desses espaços em gravuras da artista visual Maria Bonomi. Publicado pela Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, o volume é uma viagem visual na qual Bonomi criou, para cada biblioteca, desenhos e gravuras em páginas desdobráveis, nas quais há imagens diurnas e noturnas do mesmo espaço, salientando linhas arquitetônicas que, por sua vez, denotam uma concepção do modo de abrigar e eternizar a memória dos livros. Os textos de Midori, pesquisadora da cultura do livro e da história editorial, dão subsídios sobre a gênese e as características das bibliotecas, que surgem em ordem cronológica --começando pela Bibliotheca Marciana (Veneza, 1564) e culminando na própria BBM (São Paulo, 2013), depois de passar por templos do livro em Coimbra, Paris, Praga, Washington e Tóquio, entre outras cidades, incluindo a imaginária Biblioteca de Babel do escritor argentino Jorge Luis Borges, que elevou as bibliotecas à condição de lugar mítico.

As Bibliotecas de Maria Bonomi. Autoras: Maria Bonomi e Marisa Midori. Editora: Publicações BBM (2017, 64 págs., R$ 68)

Leonardo em movimento

Autor de obras de referência sobre literatura brasileira, o professor emérito da USP e ensaísta Alfredo Bosi sempre manteve um vínculo com a cultura italiana que redunda agora nesse opúsculo de intensa erudição e paixão crítica sobre Leonardo da Vinci. Bosi detecta a singularidade do artista do Renascimento na confluência do “culto pitagórico das proporções ideais” e do cientista e filósofo “admirador da verdade matemática só alcançável pelo ‘ostinato rigore’ da mente pura” com o “empirista de sentidos abertos à presença imediata dos homens e das coisas”. Analisando tantos os estudos científicos e da anatomia humana quanto as pinturas na qual Leonardo apreende as mutações entre o finito e o infinito, Bosi expõe a maneira como o prodigioso artista toscano desvendou a “mente da natureza”. Com sua atenção para o caráter instável dos elementos e do mundo orgânico, Leonardo estabelece pontes entre o neoplatonismo renascentista (que situa a matéria num plano inferior, corruptível) e a nova ordem cosmológica (construída a partir da experimentação racional), descobrindo na natureza um movimento transposto para uma pintura que --nas palavras de Lorenzo Mammì, no texto de contracapa dessa pequena e delicada edição em capa dura-- “abole os contornos marcados do primeiro Renascimento em prol de uma transição contínua entre atmosfera e corpos”.

Arte e Conhecimento em Leonardo da Vinci. Autor: Alfredo Bosi. Editora: Edusp (2017, 88 págs., R$ 34) 

 

SÉRIE

Justiça desaforada

É ético um advogado defender um cliente que sabe ser culpado? O clássico dilema judiciário, sempre incômodo para os leigos, pode ser resolvido pelo princípio do direito à defesa --mas não cancela conflitos de ordem pessoal, como os vividos pela advogada criminal Barbara Malo nessa série francesa que deu origem a sequências em que se trocam os nomes do advogado e o ator protagonista ("A Lei de Alexandre", “A Lei de Simon” e assim por diante, num total de quatro temporadas até o momento). Nos três episódios da temporada disponível no Brasil, Barbara é interpretada pela veterana Josiane Balasko, que equilibra magnificamente humor e melancolia, gestos desaforados e retórica forense. Com discreta e alegre propensão ao alcoolismo, com ímpetos de indignação que deixam seus clientes na iminência de se verem condenados por quem os defende, ela é implacável ao perseguir a verdade, colocando em xeque as decisões casuístas de um sistema penal --mas tudo isso tudo com um senso francês de fatalismo e ironia em relação aos vícios privados que contrasta com o tom melodramático e heróico dos congêneres norte-americanos. A se notar, ainda, que essa primeira temporada é ambientada em Angoulême, no sudoeste do país, o que contribui para contrapor o caráter despretensioso da província ao esnobismo parisiense.

A Lei de Barbara. Direção: Didier Le Pêcheur. Elenco: Josiane Balasko, Olivier Claverie, Cécile Rebboah. Produção: Fit Productions (2014). No Prime Video

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