Mara Gama

Jornalista e consultora de qualidade de texto.

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Mara Gama

Uma unidade móvel de reciclagem movida a energia solar, o Trashpresso, demonstrou o processo de fabricação de peças de piso plástico a partir de garrafas PET, na última Semana de Design de Londres, no final de setembro.

Ele condensa o processo de reciclagem em cinco etapas simples: trituração, lavagem, secagem ao ar, desumidificação e queima. Além disso, um filtro de ar e água minimiza o impacto ambiental das operações.

Na mesma ocasião, a empresa de design de mobiliário responsável pela exibição do Trashpresso anunciou parceria com a Starbucks, maior rede de cafeterias do mundo, para transformar talheres, copos e garrafas usados nas lojas de café da capital britânica em mesas e cadeiras. O primeiro protótipo foi a poltrona-símbolo da Starbucks, a Bean Chair. A ideia é expandir o projeto pela rede na Europa.

"Estamos no negócio da ressurreição", anunciava o manifesto da Pentatonic, em forma de vídeo. "Todos os materiais que necessitamos já estão em circulação. Nossa missão é garantir que cada nova vida deles seja melhor que a anterior. O uso de materiais virgens somente cria novos resíduos", são outras máximas da empresa fundada pelo inglês Jamie Hall e pelo alemão Johann Boedecker.

A Pentatonic lançou sua primeira coleção em 2017, com móveis personalizáveis e ajustáveis e foi uma das mais promissoras iniciativas de reciclagem em design do ano.

E o ano não foi fraco. Boas propostas de inovação apareceram no Desafio do Clima, promovido pela What Design Can Do, no Desafio do Design Circular, criado pela fundação Ellen MacArthur e na feira Chart, na Dinamarca.

As estratégias da Pentatonic exemplificam princípios da economia circular de maneira bem eloquente. Como eles mesmos gostam de frisar, a atividade da empresa começa onde a vida dos objetos parece ter chegado ao fim.

Latas, tecidos usados, garrafas PET e vidros de smartphones, processados em parceiras variadas, se transformam em insumos para gerar os materiais de seus produtos de casa e mobiliário.

O vidro do smartphone, que é uma das encrencas mais volumosas de e-lixo, vira matéria prima para utensílios domésticos.

Para o mobiliário, a empresa usa fibras de PET transformadas em tecido (SRPX - Self Reinforced Polymer Matrix) e Plyfix, uma espécie de feltro também criado com resíduos plásticos, com grande capacidade de modelagem.

Uma fibra de carbono sustentável serve para moldar os componentes sólidos e mais resistentes, como pés de mesa, de cadeira e travas estruturais.

Além de usar materiais ​f​​eitos de fibras recicladas, a Pentatonic projeta cadeiras e mesas para serem montados sem a necessidade de ferramentas. Essa é uma das características mais interessantes dos projetos, porque permite serializar de forma mais simplificada a produção. Outro benefício é a ausência de colas e resinas tóxicas.

Os componentes intercambiáveis dos móveis são vendidos separadamente, o que facilita reparos pontuais. Além disso, os compradores podem vender de volta essas partes ou peças inteiras para a empresa, para que sejam reciclados novamente e reintroduzidos na cadeia de suprimentos.

A Pentatonic recebeu US$ 4,3 milhões (cerca de R$ 14 milhões​) de financiamento antes do lançamento. Entre os investidores está a Miniwiz, empresa de tecnologia de materiais baseada em Taiwan e Berlim que desenvolveu tecnicamente o Trashpresso e os tecidos Plyfix e SRPX.

No horizonte, tirar a fabricação com reciclados da escala artesanal e levá-la à produção em massa e com desempenho comparável ao de métodos tradicionais.

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